Parte I - Execussão de Fato
Parte I - Execussão de Fato
O nome deste livro é a combinação de dois elementos sintetizados pelos versos que abrem o livro e o último poema:
"Música Fato".
Feito as pressas como algo banal e sem nenhuma pretensão, "Música Fato" simboliza o estado de espírito deste livro, deixando uma afirmação dúbia que antepõe lembranças tristes do passado, com a vida que se apresenta em tom imperativo e forte, repleta de vigor, exuberante.
Vibrar esta vitória, contudo, é uma conquista recente para o autor, na medida que quando foi escrito "Música Fato" soava ao tom nostálgico que marcava o ato de crescer, de crescer mais que o tempo, além dos limites impostos pela normalidade.
Em contraste com este clima invisível de "Música Fato", a trilogia que domina os primeiros versos é bombástica e reveladora, na medida que não poupa esforços para conter a intenção de chocar-se de frente com o leitor, propondo "Guerra e Poesia", "Sentimentos de Luto" e "Pacto Urbano".
A Execussão ocorre em praça pública, com dois "SS", à semelhança do sibilar das serpentes, que traiçoeiras penalizam os justos e virtuosos.
O brado de guerra inicia o combate, e entre mortos e feridos está o romantismo superficial, o clichê de cabeceira, a rima evidente, o pensamento escuso, que se esconde por baixo de falsas aparências e mensagens convenientes ao público vil.
Entre mortos e feridos ressurge o amor que trabalhado compõe a melodia desta obra, tendo em seu ponto alto "Arte Maldita", um poema escrito uma única vez, pleno e exuberante, durante uma aula de Resistência de Materiais, no prédio da Engenharia Civil, na Poli.
O tom camoniano, marcado por vocativos, é quase um fado, o "Fato" é o espírito com o qual evoco o amor que tenho por esta língua de gigantes, o Português.
Língua cuja origem de berço é o gótico, o barroco gil-vicentista, herdeiro da tradição rebuscada do deserto, na qual guerreiros árabes imortalizaram a transitoriedade da vida.
Ambiente incerto onde tudo pode ser tragado pelas areias de um momento pra outro e com a mesma facilidade reaparecer, lugar solitário onde o profeta Maomé lançou as bases do Islamismo, cultura que iluminou a Europa em plena Idade das Trevas.
Convém esclarecer, que as trevas eram somente para a cristandade romana, pois nos domínios de "Al Andaluz", o Reino de Granada, só havia riqueza, esplendor, cultura e tolerância entre povos diferentes que compartilhavam o mesmo solo.
Foi através do árabe que herdamos o conhecimento clássico, a Filosofia Grega, a arte da navegação divulgada na Escola de Nantes, a teoria do evolucionismo e o heliocentrismo.
E com tal vigor suprimiu a Inquisição esta verdade, que a até poucos meses Galileu Galilei ainda era perseguido e condenado por defender uma teoria herege.
A marca da Inquisição ainda existe, muito antes de capitalistas e comunistas se gladiarem, muçulmanos e cristãos se combatiam, de um lado a cultura, de outro a força.
A conquista da Espanha pelos árabes demorou poucos anos, a reconquista cristã séculos, o gentio acolheu o árabe, rebelou-se ao terror.
Somos portanto herdeiros desta nobre tradição oral, o tom conciliador do português permanece em nossas veias, contagiando-nos com este clima de tolerância e bem viver.
Não perseguimos infiéis, que defendem idéias como as de Galileu e Darwin, só porque os árabes assim aceitavam, buscamos a verdade não importa de que lado, capitalista ou comunista, islâmico ou cristão, pois esta verdade é muito mais antiga que nossa própria cultura e muito mais antiga que a própria civilização romana ou grega.
Vamos à Execussão de Fato.
Execussão de Fato
28.12.1990 Dedicatória
Dedico
Este
Livro
A quem
Possa
Interessar
Por força
De emoção,
Revolta
E gosto
A vida
Não é
Singular
17.06.1990 Guerra e poesia
Poesia
Declara guerra
À humanidade parcial
Que a distorce,
Que a obstrui,
Que a elimina
Em sintetismo
À nova era.
Poesia,
Nada presta
Pra viver
Em romantismo
Como antes...
Poesia é realidade,
Poesia é realismo,
É borracha
Que apaga
A superficialidade
De um momento
Anterior.
Poesia é pecado
Que rende
Bons frutos,
Que reacende
Novas perspectivas
De comunicação.
Poesia
Dá profundidade
À ação,
Ao realista,
Ao não romântico poeta.
Poesia é histeria
Em grupo,
Poesia independe
Do tempo,
Do espaço,
Do momento.
Poesia é nova era,
Rima como sempre foi
Com liberdade
Conquistada
Em plena guerra
De emoções.
10.09.1989 Sentimentos de luto
Lamento por vocês, canalhas,
Lamento por todos que se renderam
As promessas e ilusões,
Não os perdôo,
Não cabe a mim,
Somente a vocês.
Não os desculpo,
Pois certas palavras
Só saem de nossos corações,
E nossos corações
Estão imundos,
Bem como nossos olhos, bocas e mãos.
Não luto por vocês, canalhas,
Estou de luto
E luto contra os preconceitos
Que vocês criaram,
Não sinto falta do que não existe,
Não sinto falta de suas companhias,
De suas palavras envenenadas de sangue e ódio,
De suas vítimas inocentes,
De vocês mesmos.
Não choro por vocês, canalhas,
Choro pelos filhos que vocês abandonaram,
Não choro por vocês,
Não choro por quem me abandona,
Não os odeio,
Não odeio o que não sinto,
Não compartilho sentimentos canalhas,
Não sou um de vocês !
10.09.1989 Pacto urbano
Conte comigo que eu lhe dou ouvidos
Independente do assunto que for,
Seja grave, rotineiro,
Mas não me venha com velhas bobagens,
Quero informação, decisões rápidas,
Quero muita agitação,
Conflitos, guerras, crises, destruição!
Diga-me os seus segredos
Que eu o faço imortal
Disseminando os seus podres
Pelos quatro cantos do mundo,
Mas por favor,
Não leve a mal,
Sou tão humano quanto você,
Pois sou um ser urbano,
Tenho concreto no meu sangue,
Por isso pareço frio como gelo,
Meu sangue não circula, estou morto.
Mostra o seu esconderijo mais secreto
E os mistérios que o cercam,
Que eu o cercarei de armadilhas
E o matarei aos poucos
Com ar, água, sol e poluição,
E ao final da tarde
Os seus campos secarão e o verde não mais será,
Pois não é mais água o que escorre pela campina,
Nem mais ar o que respiras,
Enquanto o sol pouco a pouco
Queima-lhe a carne
E seca-lhe a vida nesse novo deserto.
Entrega-me seu espírito
E venda-se ao dinheiro,
Aprenda a amar e a amar
A riqueza do próximo,
Bem como a riqueza de quem o tem protegido,
Mas não mate totalmente sua vítima,
Para sugar-lhe até a última gota,
Sem que ela tenha se redimido totalmente
Do pecado.
Mas não suje as mãos,
Para que ao final possa degustar
O prato que lhe é servido.
Seja fiel à sua ambição
E terá para si portas fechadas
E ao redor pessoas morrendo.
Seja urbano, seja concreto,
Esqueça sua infância,
O seu passado e a vida que o cerca.
Eu sou a consciência de tudo
Que você deveria ter feito,
Não guardo ressentimentos,
Apenas constatações e uma experiência infinita,
Porém inútil, uma vez que a vida se desfez
E não posso mais usar o meu conhecimento
Pra mais nada.
Eu sou o seu espelho assassino,
O seu pesadelo,
O seu desejo irracional !
16.05.1990 Engenho e espaço
O espaço de ação já criado,
O pensamento adestrado,
A paixão...
O trabalho que se segue errado,
O horizonte fechado,
Também pode se que não...
Construir, somos engenhos,
Dominamos a energia, a razão,
Fazemos disso o que queremos,
Luz e destruição...
Numa corrida após outra,
Temos tempo...
Pois fazemos de tudo pra guardar,
A riqueza de passar o tempo
Sem passar,
Sem construir,
Sem criar,
Sem dividir,
Só por lazer,
Só por usar.
Viver dessa posse é errado,
Também pode ser que não,
Mas no fundo sabemos é errado,
Pode ser tudo ilusão,
De fazer do chão algo nato,
Que se vende sem contestação!
16.05.1990 Não tecnologia
A força aplicada,
A corrente jogada,
Tensão espalhada no ar...
Tecnologia de ponta,
O sol que desponta
Na cinzenta poeira do ar...
O mar, o horizonte,
O lar sobre o monte
De lixo e lixo a ficar...
Sem destino, jogado,
Esquecido, acuado,
Não podre,
Sem como voltar.
A batida, a estrada,
A política poética,
Sem pudor,
Sem estética,
Sem nada.
Só batida,
Só terror,
Tecnologia desamor,
Decadência,
Matança,
Delinqüência.
Ciência não consciência,
Conhecimento "não saber",
Sobrevivência,
Não podemos esquecer...
De que se existe,
Um dia acaba,
Se é certeza,
Pode ser nada,
Por quanto tempo
A ação pode durar ?
Se o instante é passado,
Se o levante é armado,
Se a força não pode alcançar
Um exército morto,
Invencível,
Inatacável!
10.11.1990 Corpo da ação
Meu querido estado de larva
Meu querido estado de bixo
No fundo sou animal
Produtor de lixo
Não peço a deus o que dito
Mas sei que se ditam as regras de algum lugar
Lá do céu
Lá do mar
De algum lugar saem as ondas
De um gigantesco controle remoto
Que criam as sociedades
Os países, as nações
De algum lugar sai isso tudo
O mistério disso tudo
E algum dia saberei
Quando for posto abaixo
Como um pedaço de terra decomposta
Indiferente a tudo
Sei, sou animal como sangue
Como as emoções que escorrem pelo corpo
Sou tão vivo quanto um porco
Sou social
Ou serei associado?
Vítima ou executor?
Talvez louco
Por achar que existe um significado
Para a construção de um mundo
Mais bom
Mais melhor
Mais humano
Mais porco
Somos todos banha da mesma lata
Somos todos demais
Porcos ou bossais?
Será que já sabemos a solução
Pra tanta demostração?
Cadê o poder?
Cadê a cabeça do Hôme?
Cadê a cabeça de todos?
Quem é que manda?
Quem é mais eu?
Será o homem uma falha no projeto de deus?
Um empréstimo a prazo?
Uma promessa de pagamento?
Dinheiro do criador?
Mas o homem também brinca
E cria a sua dor de cada dia
Cria-dor.
Quem diria ser o homem
Um novo astro no show da criação
Um novo astro no show que a natureza emana
Quem diria ser a natureza tão vulgar
A natureza do homem.
05.11.1990 Caminho do José Analfabeto
Podre
Malcheiroso
Horroroso
Peito nú a flor da pele.
Morreu José da Silva
Sob o asfalto escaldante
Da Raposo.
Foi burro
Foi horroroso, ignorante
Foi incapaz
De reinvindicar
Os seus direitos.
Morreu sob a passarela
Que não existia
Para levá-lo ao trabalho.
05.11.1990 Séculos errados
Dez séculos de tradição
E cultura caem abaixo
Como sinfonia em frangalhos
Como irônica canção:
Estavam todos errados.
Dez séculos de mesmice
Dez séculos de idiotice
Dez séculos e o mesmo recado.
E nunca demos conta ( do recado )
E nunca contamos os séculos passados
E os séculos passaram sem conta
E no fundo sou como um galho
De uma árvore partida.
Entre dez dos doze vícios dessa estrada
Doce é a tradição que me alimenta
Sou século dez
Conto com a mesmice pra sobreviver.
E as folhas caem ao chão
Quando chega a estação apodrecida
E mortos estão apenas sonhos partidos
Que caídos ficaram
Na estrada sedução do fim do mundo.
Dos doze meses de Noventa
Resta apenas a lição
E pros dez anos restantes
Não existe sensação
Pra descrever a minha queda pela vida.
Que dez anos sejam muito mais
Do que um abismo de espera arrependida
Pois se é luta, não tem outra saída
Além de morrer como herói em queda livre.
Louco para sentir
O corpo lindo destruir-se em choque pouco
Na torrente de emoção e fantasia
Versus realidade,
Quando o sonho acaba
E alguém acalenta a esperança
De que a vida continua
Assim como caem os anos e os meses
Na imensidão dos séculos.
10.11.1989 Mundo crítico
O mundo de faces
E luas,
Mundo de mulheres
Nuas,
Por pureza,
Por sexo,
Por muito mais
Que tudo,
Nas quebradas
De esquina,
Nas camas
Da vida,
Na podridão.
Poder, fome, miséria,
Pode uma realidade
Tão crítica
E pessoas tão acomodadas?
Não só mulheres
Se deitam nessa ilusão,
Jovens e homens
Também se deleitam,
Se manchando simplesmente
De sangue de vítimas
Inocentes.
Sinto o incômodo
Do seu hálito,
Me incomodo
Com o que
Me acomoda.
Para uma vida melhor
Não existe certo ou errado.
Sou crítico
Por natureza,
Sou gente,
Sou contra a pura beleza
E ostentação,
Pois acredito
Que o belo
Vem das coisas
Mais simples,
Como uma mesa posta.
29.07.1990 Corpo de guerra
Corpo de massa,
Terrorismo
Incestuoso,
Tempestade
Que passa,
Em instante
Indecoroso.
Estabelecimento
É refúgio,
Realidade
É o forte,
Que abriga
Tanta luta,
Somos soldados
Filhos da morte.
Guerreamos
Por ardor,
A batalha
É próxima,
Guerreamos
Por amor,
Golpeamos
Somos fortes.
Somos
Espírito
De corpo,
Somos
Corpo
De massa,
Somos
Morte
Perigo,
Somos
Corpo
Desgraça.
Nunca
Saberemos
Quem
Comanda
Nossos
Passos.
16.05.1990 Mensagem da tela
A tela
Aberta
Ao público,
Assiste
À um show
Tanto
Cômico:
Pessoas
Em rotinas
Urbanas,
Atitudes
E gestos
Comuns,
De comer,
De limpar
A casa,
De fazer
Lazer
A toda hora,
Embora
Não consigam
Entender a luz
Que brota
Do vidro,
Insinuando
A ação
Sem movimento,
Pensamento
De massa,
De moda
Que passa
Assim...
Sem ficar
Lucidamente
Assumida,
Apenas
Consumida,
E tudo é inevitável,
Assim como a
Inevitabilidade
Do destino
Já traçado,
De desenvolvimento
Indiscriminado
E pessoas
Cada vez
Mais mudas
E despersonalizadas,
Atentas a
Imagens
Não suas,
Vivendo
Vidas alheias,
E ideais
Não seus,
Pois duvidam
Da unicidade
De um mundo
Criado
Por Deus,
E sonham
Assim
Mortas,
Peças
Pequenas,
Insignificantes
De uma força
Que move
Gigantes...
Sonhos
Que levam
A nada,
Como
Numa
Viagem
Que
Fazemos
Pela tela,
Quando
O dia
Passa
Sem que
Mude
Em essência
Alguma coisa
Entre
Nós
Ou nas
Telas
Da TV.
20.11.1989 Inimigo meu
O inimigo meu
Não quer farinha,
Não se alimenta
Do que planta.
O inimigo meu
Quer liberdades,
Mas não percebe
Que gera preconceitos,
Fome e miséria
Nas cidades.
O inimigo meu
Não tem bons olhos,
Não aproveita
A paisagem da vida
Em movimento,
Quer tudo estático,
Sedento por imagens
Padronizadas de TV,
Vidro e concreto armado.
O inimigo meu
Não passa fome,
Pois me rouba o sustento,
Me tira a riqueza, o alimento
Em troca de papel
Cor de dinheiro.
O inimigo meu
Quer ser o primeiro,
Não percebe
Que tudo tem
Que correr naturalmente
Sem os ponteiros
Que guiam o seu
Mundo de horários
E compromissos.
O inimigo meu
É um ser pequeno
Que não aprendeu
A ver a vida como tal.
Inimigo ou eu,
Não sei bem
Quem pode estar errado,
Mas eu me respeito
E vejo os fatos
Como são !
13.06.1990 Realidade
Jazia
Pura e simples
Na sacada,
Com cara sacana,
Com face impura,
A realidade.
De roupa
E modos discretos,
A realidade
Se masturbava
Por debaixo
Do vestido
Sem vergonha.
Realidade,
Quem é seu pai,
Quem é sua mãe,
O que sabemos
A seu respeito ?
Realidade
É uma filha
Da puta,
É filha
Da mãe,
É moça
Que se vende
Pra poder
Sobreviver.
E nós,
Nós somos
Quem a usamos,
Quem a amamos.
Nós,
Nós somos
Realidade
Pra poder
Sobreviver
13.06.1990 Papel do papel
Papel,
Papel
De preto
E branco,
Papel
Que colhe
Escrito
De profetas,
Políticos,
Dentistas,
Poetas.
Papel,
Papel
De poesia,
Papel
De hipocrisia,
Papel
Constituinte,
Papel
Burocracia.
Papel,
Papel
Camaleão,
Papel
É o peão
Do conhecimento
Humano.
Papel,
Papel
Que esta aí
Pra limpar
Toda sujeira,
Pra fazer
Fogo,
Pra sustentar
A fantasia
Do nosso instante,
Pra limpar
Seu excr...
A sua sujeira.
26.06.1990 Agonia
Não suporto
Mais mistura,
Tanta luta.
Quero lugar
Plácido,
Quero chão úmido,
Quero plantar.
Plantar
Um instante
Próximo,
Um elemento
Tímido
De reconciliação,
Quero poder
Crescer com emoção.
Quero ser capaz
De resolver
A minha essência,
Quero poder
Esquecer...
Quero viver
Sem agonia
Em consciência.
29.06.1990 A ponte
Lá vai
O cidadão
Que a ponte
Partiu,
Lá vai
Situação
Que por
Instante
Existiu,
Lá vai
Objeto
De momento
Passado,
Lá vai
A intenção
De um saco
Estourado,
Lá vai
O objeto
De nossa
Alusão.
Injustiçada
É a sua
Mãe !
26.06.1990 Stress urbano
Campo,
Mata
Minha
Vontade
De crescer
Sob seu
Signo.
Quero
Ser fértil,
Quero
Ter filhos,
Quero
Morrer
Em terra
Benta.
Amanhã
Buscarei
O teu
Refúgio.
07.08.1990 Sensacionalismo
Movimento acelerado,
Situação de instante,
Perigo eminente,
Atitude irrelevante,
O ônibus choca-se,
Morre gente,
Surge notícia no jornal,
Nada acontece,
Mas gente morreu,
Batida ou guerra
É a mesma coisa
07.08.1990 Rotina classe C
Vou-me embora,
Vou pra casa,
Vou pegar
Ônibus
Vou ficar
Quase esmagado,
Vou esperar
Por tantas horas,
Tanto quanto
Precisar,
O ritmo é lento,
O ônibus balança,
O ônibus pára,
O ônibus cansa,
Pra que tanto
Sofrimento?
Volto pra casa
07.08.1990 Fila urbana
Meio urbano,
A fila rege
A sincronia
Casual
Do meio
Urbano.
Fila pra entrar
Fila pra sair
Fila pra comer
Fila pra pagar
Fila pra pedir informações
A conclusão é uma só,
Perde-se tempo.
07.08.1990 Perfeição absoluta!
Acaso,
Fadiga,
Situação.
Erros ocorrem
Naturalmente,
Mas podem
Ser combatidos,
Às custas
De outros erros.
08.08.1990 Devorando o tempo
Tempo é
Uma idéia fixa
Do meu lado interior,
Tempo é estado posterior,
É objetivo futuro,
É o passado
Que passou
Tempo é meu,
Tempo derreteu
Em nossos braços,
Tempo é como sorvete
Se chupa,
Se morde,
Até que acaba.
Tempo é um
Assunto
Triste de relembrar,
Nos dá saudade
Depois que
O comemos.
26.06.1990 Megalopolia primitiva
Marília,
Mariela
Ou Brasília,
São todas
Cidades.
Eu sou Paulo,
São
Bernardo e
Diadema.
Juntaremos,
Fazeremos
Nosso
Espaço,
Evoluaremos
Pra crescer.
20.06.1987 A luz da cidade
Quando a luz morta
Bate na porta
Não é sol,
Não é vida,
Não é lua...
É só um véu
Que venda os olhos
Da cidade,
E que envolve o céu,
As estrelas,
A lua...
Ilumina a rua,
Vazia, sem vida...
Como o rio que morreu
De luz,
De noite,
Nos céus da cidade.
26.06.1990 Visite São Paulo
Viagem
De ônibus
Pelos dias
Da cidade:
O motor
Ronca,
O carro
Balança,
O dinheiro
Vai pela
Catraca...
Pago
Para ser
Sardinha.
24.06.1990 O intocável
Gentil
Homem
Que o tempo
Apaga,
Pensa
Que sabe
De tudo,
Quando
Não sabe
De nada.
Se acha
No direito
De achar
O que bem quiser,
Quando
No fundo
Não quer nada.
Perde tudo
Pois não sabe
O tempo
Certo das pessoas,
E perde tudo
Por sonhar
Gentilmente,
Sem valorizar
O que lhe resta,
O intocável,
O homem,
O resto.
24.06.1990 A raiz assassina
Raiva
Assassina
A sutileza,
Apaga o
Afeto,
Revolve a
Memória,
Altera a
História
Num grito de
Guerra !
Raiva
Não passa,
Raiva
Consome
Nosso
Íntimo.
Se arrefece
Com o
Tempo...
11.06.1990 Fato consumado
Fato consumado
Em branco,
É pranto
Que se faz
Consumar,
No instante
De curto
Momento,
De alguém
A sonhar...
Na última
Esperança a
Gota,
Transborda
De frustração,
Num lago
De esperança
Rota,
De prostração.
Paciência
É nosso veneno,
E o tempo
Nos custa
A passar,
Enquanto
Alguém
De pequeno
Se põe a chorar.
Por fato consumado
Ao tempo,
Não pra lamentar,
Um gesto inseguro
Veneno,
E o tempo a passar...
Ato me parte
E o parto
Não é mais dor,
A ilusão
De que tudo
Passa é dissabor.
De raiva, dor e ódio
Não podemos ficar...
Esperando
Paciente iludidos
E o tempo a passar...
Num instante
Distante de tudo
Que não é mais nosso,
Eu vivo presente,
Eu mudo
Tudo que posso.
E o fato
É tempo e espaço,
E viver
É não esquecer,
Pois pra certas
Coisas que existem
Ainda é pouco morrer.
Por fato
Consumado e pranto.
13.06.1990 Saudade
Saudade,
Saudade
Que vem
E bate
Violenta !
Saudade
Que insiste
E me acorrenta
Ao passado.
Saudade,
Saudade
Que nasce
E cresce
Em mente...
Saudade
Que reacende
O ardor
De se viver
Lucidamente...
Saudade,
Saudade
Vivo
Ao meu
Modo,
Saudade
É tudo
Que posso.
E o resto,
É resto
E melancolia
De recordar
Inutilmente
A frustração
De um passado
Sem saudade !
09.05.1990 Cantiga ridícula
Jogada fria
Tão distante,
Apaixonada,
Paixão vazia
Se perdeu-se
Em pleno céu.
Céu de estrelas
Que fundiam
Na magia,
Do instante
Que nunca
Aconteceu.
Saudade
Dói demais
Na mente
Tão cansada,
De lamentar
Por tudo só
Que ela lhe deu,
Naquele instante
Em que jazia
Apaixonada,
A consciência
Do amor
Que não nasceu.
Nasce da
Sombra
Manto negro
Na sacada,
Vôo livre
De Alguém que se perdeu,
Em vôo cego
Por detrás
Da madrugada,
Em pleno céu
Pois não lutou
Como Romeu.
Morre louco
Suicida
Na calada,
E em pouco tempo
A madrugada
Esqueceu,
A pedra fria
Que desponta
À madrugada,
Em seus delírios
Como lápide de seus,
Olhos cegos
À beleza da
Amada,
E em seus campos
Ela nunca renasceu.
Mas jovem Triste
Pode se
Que se levante,
Mas força livre
Não voltou
Ao coração,
E hoje jaz
O jovem triste
Em descanso,
No mesmo campo
Em que a amada
Pereceu,
Ridiculamente
Por motivo
Banal.
08.08.1990 Declaração sem motivo
Porque tanto
Mistério
Se tudo
Que tínhamos
Perdeu-se
Acabou-se
Chocou-se
Com nossos
Valores
Não temos
Nada pra ganhar
Nem pra perder
Vale a pena
Esclarecer
O que foi dito
Antes que tudo acabe
Totalmente
Não vou
Lamentar
Pelo passado,
O presente
É feito
Hoje!
06.08.1990 Vazio formal
Gramática,
Catedrática,
Dramática
De entender.
Novíssima
Gramática
Da língua
Portuguesa,
Conjugação
De incerteza,
Modelo
De vender.
A verdadeira
Postura
É a prática
Da leitura,
A correção
Da escrita.
Algo que ainda
Não figura,
Nem tem regra
Ou forma
Fixa.
16.05.1990 Nova poesia
A rima métrica,
A construção sólida,
O pensamento consistente,
A palavra indiferente.
A rima pétrida,
A corrente mórbida,
A realidade insólita,
O que posso mudar?
A rima crescente,
A mudança de repente,
O choque e a paixão,
Seria tudo ilusão ?
A rima decadente,
A pessoa diferente,
O poeta a sonhar...
A rima ou a sina,
O momento ou a morte,
O poeta e o corte,
Onde a censura pode estar ?
Na rima ou no toque,
Na tentativa ou no enfoque
De se tentar
Viver nova poesia.
Passar pela rima distante,
O apaixonado amante
Da rima,
Da sina,
Da corrente.
Indiferente à métrica,
Sem medida,
Sem construção,
Sem corpo,
Sem solução,
Sem estética.
Sem rima a inovação,
Poesia ou dissertação:
Forma
Contagem
Idealismo
Miragem
Miragem estética,
Palavra lúcida,
Construção independente,
O poeta a sonhar...
No verso reverso,
Na frase redisposta,
Poesia ou construção?
Talvez seja só
Desmistificação
De poesia...
29.06.1990 Arte de ler
Construção
Independente,
Pedra primeira
Do pecado.
Sou poeta,
Tenho dado
Vida
Às palavras.
Peco todo
Santo dia,
Falho
Intenções,
Sou fabuloso,
Independo
Da lógica
Estética.
Conecte a mim
O teu mundo
Faze
Troca às
Avessas.
Crio
Algo profundo,
Mas nada
Que posso
Se expressa,
Na singularidade
De leitura
Bem compreendida.
01.07.1990 Comunicado
Vocabulário
Restrito,
A constância
Das palavras,
Mas o que
Não falo
Quando uso
De parábolas?
A rima
Apenas marca
O ritmo
Das idéias,
Falo sempre
De meus ideais.
Colho
De ouvido
O que posso,
Falo às vezes
O que devo.
21.06.1990 Mávia
Mávia
De palavra
Inconsistente,
Neologismo
De breguete.
Luta por
Nova expressão,
De reflexão,
De falta de...
Vontade
De Mávia,
Brincadeira
De bom gosto
Que se faz...
01.07.1990 O movimento do século
O movimento
Do século
Marca a
Hegemonia
Da coletividade
Humana.
Somos todos únicos,
Inconscientes
Dessa essência.
Temos em fé
A decência
De gerações
Anteriores.
Mas caminhamos
Pelo tempo,
Tragamos
Seu elemento
De espaço
E existência.
Inconscientes
Conscientes,
Perdidos,
Mas tendo
Em mente
O movimento
Do homem :
Procuro
Meus iguais !
O caos
Marca
O início
Dos tempos...
Nunca paramos,
Nunca estamos sós.
A vida flui
Após a morte,
Como chuva
Perdida num lago,
De completa
Existência
Concreta
E forte !
01.06.1990 Constatando o tempo
Resultados
Ficam,
Talento
Se vai,
Tragado
Pela transição
Do momento
Que passa.
Às vezes
Somos
Limitados
Quando
O assunto
É o tempo.
Infinita é só
A sua falta.
A regularidade
Não é característica
Do homem,
Nem do que é vivo.
O tempo morre
A cada segundo
Que passa.
26.06.1990 Quarto de corpo
Um minuto
De silêncio
Não faria
Mais barulho
Pra causar
Reflexão
Entre paredes
De um quarto
Abandonado.
Havia achado
A consciência,
Estava livre,
O corpo descansava
Em quarto
Solto abandonado...
28.11.1990 Porta Torta
A porta aberta
Para os sonhos,
A porta aberta
Para o vento,
A brisa atingindo
O corpo,
Envolvendo
Os sentimentos.
O homem atrás da porta,
Desconhecido como o vento,
O medo atrás da porta,
O pensamento medonho
E a viagem intimista
Pelo íntimo de um sonho.
Tudo foi fruto da imaginação.
Foi tudo passageiro.
Tudo medonho.
E a porta aberta,
Sem chaves, sem trinco,
É a porta da vida
E a brisa envolvendo
Os sentimentos.
23.05.1990 Condição inicial
Meu pensamento
Conservativo
É como um
Profundo
Potencial
Em pleno
Campo
De emoções
Sempre iguais.
Intensas
E dispersas,
Como inúmeras
Partículas
Difusas
De densidade
Imensurável,
De módulo
Infinito,
Em rotação
Constante,
Seguindo
Linhas
De pensamento
Com direção
E sentido
Incógnitos,
Pois falta
Um objeto
De estudo,
Um referencial
Algum,
Uma variável
A mais
Para tornar
O sistema
Determinado
A conquistar...
A emoção
De um único par...
Complementar
À nossa
Infinitésima
Existência,
Nessa integral
Que é a vida,
Limitada
Por nascer
E morrer
Num dado
Instante
Do domínio
Do tempo,
Que acena
À nossa existência
Como à sua própria,
Numa mudança
De variáveis
Num espaço
Linearmente
Dependente,
Onde tudo
Se projeta
Parcialmente
Sob coordenadas
Normativas,
Socializadas,
Padronizadas
Por teoremas
E princípios
Anteriores,
Numa seqüência
Estruturada
De hipóteses
E teses,
Que preenchem
Nosso tempo vago
E alimentam
O nosso
Conhecimento
Cumulativo
De forma
Exponencial,
Sempre divergindo
Para o limiar
Do compreensível...
Do imaginável...
Mas a mente
Está sempre lá
Com suas
Proposições
Intuitivas,
Buscando "N"
Caminhos
A seguir
E a avançar...
Como uma
Massa fluída
De uniforme
Essência,
Por entre
Turbulentas
Divagações
Do raciocínio
Lógico irreal,
De fases e glórias
Temporárias
Em um ciclo
Periódico,
Fechado,
Contínuo,
Senoidal,
Em operações
Diferenciadas
Ligadas
Ponto a ponto
Em função
Do que ‚
Presente,
Futuro,
Passado
E realização,
A partir
Do que já foi
Postulado
Num momento
Anterior.
20.07.1990 Destino
Destino é
Um portão
Fechado,
Um obstáculo
Constante,
Absoluto,
Sólido,
Impenetrável.
Os passos
Se sucedem
E ele está
Sempre lá
À nossa frente:
Distante,
Próximo,
Presente.
Só a mente
Ultrapassa
Seus limites.
13.06.1990 Dialética
Faca
De dois gumes
É faca
Sem lado,
É faca perdida,
É dupla reflexão
Contraditória,
Que não caminha
Nem para um lado,
Nem para outro,
Que machuca e
Penetra fundo,
Mas que
Não é solução
Para nossos
Fatos.
É uma faca fútil,
É uma faca filosofal,
É ponto de parada
Obrigatória
Para todo bom artista.
É ponto de se
Encher o saco,
Calibrar os pneus,
É um posto
Que fica
No começo da estrada,
Como uma comparação idiota
Muito útil
Pra matar.
26.12.1989 A encruzilhada
Cruzamento em vida
É como um traço,
É como um X marcado
Em nossos braços
Na expectativa de novos rumos,
Distantes dessa encruzilhada.
Um cruzamento,
Uma opção,
Uma escolha,
Uma encruzilhada de pessoas
Separando nossas vidas,
O futuro do passado.
É o presente
Que Não é mais nosso,
Que nem foi ganho ou ganhado.
Nós o conquistamos
Sem mais nem menos,
De repente, totalmente,
Sem sexo,
Sem culpa,
Sem nexo.
Mas por trás desse instante
Existe um sentimento anterior,
Uma expectativa futura
Que nos alimenta o espírito
E nos dá calma.
Eu queria ter
Todo o tempo do mundo,
Mas antes a encruzilhada
Me obstrui o caminho.
Seria um rochedo, um grão de pó ?
A encruzilhada é só
O que de fato não sabemos,
Ou o que esquecemos de viver.
Às vezes apenas nos faltou tempo
Para a opção mais correta,
Guardamos por isso saudades
E uma capacidade infinita de amar.
12.06.1990 Negativa e ação
Tenho uma negativa de lutas,
Pois não temo a verdade
Que é
Mais luta
Pra manter o que tenho,
Do que lutar por lutar sem fé.
Tenho em mim a verdade que tenho,
Tenho em mim pensamentos de muitos,
Que são povo,
Que são multidão,
Não temo esse espírito antigo,
Que me faz dar sentido à ação,
De lutar pelos que me acompanham
Nessa mesma emoção.
Cruzo os braços tomo fôlego,
E penso no que não foi em vão,
Retomo tudo desde o começo,
Com os pés fincados no chão.
Mas se você tiver dúvidas,
Não se espante que dúvidas são,
Simples pressentimentos
Do que pode acontecer ou não.
Agora certezas são certezas,
Não alimentam somente a ilusão,
Pois certezas constroem mundos,
E dúvidas não !
14.08.1990 Oração de água esperança
Da flor fez-se a semente
Que criou a vida
Que levou o fruto
Como pedaço de magia adormecida
Da água fez-se a chuva
Que acaricia o rosto
Como um abraço apertado
Molhado de vida
Água dou-lhe de presente,
Presente como água alegria
Benta água benta
Escorre pelo corpo
Lava o coração
Renova a força
Escorre com magia
Pelo lado esquerdo,
Ilumina o rosto
De doce energia,
Esperança
Água dou-lhe de presente,
Benta é a nossa amizade,
Semente é o que planto agora,
Verdade florescerá depois
Desse instante de Oração
Por água
Esperança e flor.
15.11.1989 Cor de vida
A minha imaginação criou uma pedra,
Uma pedra sem qualquer aparência,
Uma pedra sem cor,
Uma pedra de tudo,
Transparente em seu conteúdo,
Uma pedra inocente,
Uma pedra quente,
Cor de brisa.
O meu desejo criou uma pedra,
Uma pedra ferida,
Carregada de sentimentos conflitantes,
De fogo,
Que aos poucos foi queimando o meu peito,
De dor,
Cor de ira.
O meu pensamento criou uma pedra,
Uma pedra pesada, consciente,
Uma pedra miragem,
De erros e estragos antigos,
Que moldaram o seu corpo pelo tempo,
Que lapidaram os seus sentimentos no
Caminho de pedra
E que por uma razão qualquer
Parte em busca de uma essência perdida,
Cor de brisa, o ideal da nossa mente
Cor de tudo que é semente nessa vida.
15.11.1989 No meio de tudo
No meio do caminho havia uma pedra,
Havia uma pedra no meio do caminho.
No meio do caminho havia uma pedra,
Mas o que eu poderia fazer?
Que razão teria a pedra
Para obstruir-me o caminho?
Mas tinha uma pedra no meio do caminho,
Que aos poucos foi crescendo, crescendo,
Até tapar-me totalmente o horizonte
E nesse instante percebi
Que era a pedra da minha imaginação,
Que era a pedra no meio do caminho,
Que era algo sem qualquer significação,
Mas importante para mim,
Pois era uma pedra, um penhasco,
De escalada difícil, de escalada de pedra,
Fria como pedra, dura como pedra,
Fruto da minha imaginação.
Venci a escalada desse rochedo
E mais uma vez havia uma pedra,
No meio do caminho,
Pequena por feitio,
Mas presa ao meu passado como pó,
Como uma pedra pequenina,
Que deixei às minhas costas,
Entre tantas e outras
Que a minha imaginação criou,
No meio do caminho de pedra !
10.10.1989 O meu voto
Boto o meu voto
Numa urna
Selada de ilusão,
Meus olhos se abrem,
Meu instinto indaga
Pela ação,
E mais uma vez
Abro os olhos
Caminhando
Resoluto
Para a próxima
Eleição.
O pensamento
Se volta apreensivo
Procurando
Onde nascem
Tantos erros...
Na minha calma
De espírito
Lamento
Por serem poucos
Os momentos
De decisão,
E assim vai
Mais um voto na urna.
A urna
Agora tão distante,
Laranja,
Parece com o sol
Que nasce e morre
No horizonte.
A urna
Não é clara
Nem transparente,
A urna
É antes pedra
Que presente,
Pois carrega
Dentro de si
Muitas decepções
E ressentimentos
Por aparecer
Tão pouco.
O pensamento
Se volta para frente,
E quem me dera
Fosse freqüente
O meu voto,
Para que a urna
Como o sol
Fosse presente,
A iluminar
A consciência
Como um sol !
18.04.1990 A miserável riqueza do tempo
O tempo
Caminha a
Seu modo solitário,
Acompanhado,
De modo algum iludido,
Pois sabe bem
Qual seu destino,
Por isso
Caminha cansado,
Pois carrega consigo
O peso
De saber de tudo,
De saber de nada,
De ser mal agradecido
Consigo mesmo.
O tempo não se revolta,
Não causa conflitos,
É quieto,
É paciente,
Tem olhos vivos,
É presente em todos
Os seus atos.
O tempo é um coitado,
O tempo é o tempo,
Tempo que não
Rima com lamento,
Tempo que lamenta
Muito a rima,
Tempo que nos admira,
Que nos dá liberdades,
Que nos leva a vida afora,
Que nos leva a vida embora,
É o senhor tempo,
Esquecido,
Empoeirado,
Já passado a seu tempo,
Ao seu próprio modo,
Pois em essência
Nunca muda,
Está sempre lá,
Esperando
Por nossas atitudes,
Por nossas revoluções,
Por nossas alegrias,
Dores, emoções...
O tempo é muito rico
Pois presencia isso tudo
E guarda consigo
O seu mar de frustrações,
Enquanto o tempo passa
E deságua em si mesmo.
19.04.1990 Bom dia
Bom dia
Como vai Maria ?
Como vai o José ?
Como vai você ?
Já cheguei atrasado,
Desculpe se estou errado,
Mas o que eu posso fazer
Se José não é mais nome,
Se Maria nem nome é,
E se todos falam de moda,
Mas não sabem dizer como é
Que se molda a vida ?
Que se molda a Maria ?
Que se molda o José ?
Pois é...
O que rola é o que importa,
O importante é a moda,
Mas o que eu posso fazer
Se me chamo José,
Se me chamo Maria,
Se me chamo Pelé ?
Eu sei,
Mas não jogo bola,
Pois o que rola é surf,
É skate, é o que é ...
E eu ?
Onde entro nessa vida ?
Onde fica o meu espaço ?
O meu gosto ?
O meu suor ?
Onde eu me amarro ?
Talvez estejam
Todos errados
E ainda hajam Marias
E Josés.
E ainda hajam bons dias,
Liberdades e alegrias,
Pra quem não liga
Pra moda,
Pra quem se vira,
Pra quem batalha
O dia a dia
E curte a magia
De escolher o próprio gosto,
A própria roupa,
A própria moda,
Que curte escolher
O jeito próprio
De amar e ser amado
E de viver :
Bom dia
15.05.1990 Nosso instante
Nada,
Nada pode me deter
Neste instante
Em que
Não sinto,
Não quero,
Não luto.
Vago firme,
Resoluto
Por corrigir
Na passiva
Emoção dos atos,
O nada
Que me envolve
De tudo,
De dinheiro
De nada.
Podia ter medido
Outro instante,
Mas sou constante
E estou preso
Ao meu modo.
Me podo
Pelos atos
Não ativos,
Pelos sonhos
Só passivos,
Pela doce ilusão
De sonhar
E mudar o mundo
Sem ter feito
O que foi dito
Naquele instante
De nada.
Naquele vago
Instante
De reflexão
Tão inútil,
Naquele nada
Tão constante
E fútil,
Sem bases sólidas,
Sem postos lúcidos,
Sem atitudes,
Razão e paz,
Na juventude
De um mundo único,
De não atitudes,
De não juventudes,
De reflexões
Sempre iguais,
Sobre o nada
Que envolve tudo
E nos rouba o tempo
E a chance de mudar
O nosso instante.
11.06.1990 Velhas saídas
Migalhas,
Memórias falhas,
É duro entender...
Quando tudo
Parece de novo
Acontecer...
Disserto
Sobre tudo
Que posso,
Minha posse
Não é minha.
Deserto de uma
Responsabilidade inútil,
Sou tanto fútil,
A vida caminha.
De novo
Só desespero e dor
São mais iguais,
Pois de resto
Velhas saídas
Não temos mais.
E o tempo passa...
E as pessoas passam...
É duro esquecer,
Quando queremos
Num instante
Profundo
Reviver,
A saudade
Que temos
De um passado
Mais nosso.
13.06.1990 Reta ao futuro
Sentido...
Sentimento
Dirigido
Em parte
Não é semente...
De tudo
Que guia
A vida
Em seu
Tormento...
Pois é
Luz pouca
Pra iluminar
Este momento...
De tantos
Desvios
E situações
De transientes...
De nova mente
Que seduz
Belo caminho...
Não dirigido
Por um sentido
Assim somente...
Colocado
A seu modo
Ao seu destino...
Pois tudo
É magia
E vida
Interiormente...
E razão
Somente
Existe
Pra se estar...
Nos desviando
Dessa calma
De ficar...
Mirando
O horizonte
Em linha
Reta.
01.07.1990 Pergunta agressiva
Considere
Que a pergunta
Não foi bem feita,
Que você
Escutou mal,
Que o assunto
Não lhe interessa.
Mas e daí ?
Nada muda,
Acorda,
Muda
O seu perfil
De ação
Acontece
Que a vida continua...
Merece
Consideração!
11.07.1990 A trilha
A próxima trilha
Nunca segue em frente,
Pois os caminhos
Que a gente trilha
São turvos,
Como névoas
Cobrindo os olhos
E tingindo
Nossos pensamentos
De brancos e flashes,
Perdidos na imensidão
De cada instante.
De cada instante
Que sentimos
Ao toque
De nossos corpos
Com o caminho
Que nos rodeia,
Com essa trilha
Que pulsa vida,
E de relance
Felicidades,
Por instantes
Em que marcamos
Essa estrada,
Com luzinhas
De saudades
Ao vencer.
A luz da trilha
Nos faz curvos,
Nos embalos
Do caminho
Que vai
Se criando de luz,
De luz que fizemos
Surgir ao longo
De nossos passos,
Inesquecíveis
Em nossos corações,
Por instantes
Que fizemos marcar
Como saudades
E sentimentos novos,
Em nossos peitos
Como velhas recordações,
Desse passado
Que estamos
Sempre a deixar
Por detrás de nossos passos,
Até que a luz se apague
E não haja mais
Escuridão.
01.07.1990 Movimento Natural
A minha
Riqueza
É invisível
Aos olhos
Dos homens.
Sou vento,
Viajo
Na beleza
Da vida
Que resta
Apesar
De tudo.
Homens
Não
Sabem viver
Em movimento
Natural...
20.10.1989 Um só instante
A vida
É um ideal
Que transpomos
A cada passo,
A cada passo
Que criamos
De nossos sonhos,
De sonhos
Que nascem
De nossos ideais,
De ideais
Que nos dão vida,
De ideais
Que nascem
De nossas virtudes,
De nossos sentimentos,
De nossos corações.
As emoções
Nos alimentam
De tudo
Que nos dá saudades,
De tudo
Que deixamos
Por detrás
De nossos passos,
De tudo
Que recria
Nossos ideais
E nos faz viver
Mais livremente.
A semente
Da vida
Nasce na emoção
De um só instante,
De um só instante
Que nos faz deuses
Recriando a vida
Em nossos corações
Ao toque
Suave e suado
Dos sentimentos
Iluminados
Pelas paixões,
De tudo que nasce livre,
Fruto do amor
Por todas as coisas.
13.06.1990 Bagagem de mão
Olha a camisa,
Olha a calça,
O pijama...
Olha na cara,
Olha e despista,
Cadê a mala ?
Expectativa
De viajante,
Fugiu de casa
E como antes
Esqueceu
De fechar a porta...
O quarto aberto,
A casa aberta,
A bagagem na mão...
Aonde vai a criatura ?
Olha o caminho,
Olha o sapato,
Olha mais outro,
Passa o passo...
Assim marcando
Essa passagem
Tão ligeira.
Olha a bagagem,
A mão segura,
Olha a vontade...
Nada figura
Em seus olhos,
Mas isso em parte,
Pois seus olhos são
Viagem intimista...
Olha a cabeça,
Olho nos olhos,
Olha a vontade...
Deixai ficar
Mais uma noite.
10.06.1987 Poente
Sem rumo
Desconta
Desponta
E monta
Sobre
Sonhos
Assim
Tão incertos...
Lúcidos
Delírios
Tão belos,
Cavados
Assim,
Entre
Tantos
E tantos
De mim.
Nuances
Tão lindos
E belos,
Jogadas
De espadas
De ferro,
No nú
Ardente
Desejo,
Poente
Ensaio
De dor.
Sacadas
De flores
Sob copas
De amores,
Escondem
Vagos
Traços
De flor.
Clareando,
Fazendo,
Moldando,
Nuvens
De céus
Cintilantes,
Mensagens
De luz
Sufocantes,
Apelos
Talvez,
De um dia
Distante,
Que um dia
Se fez
09.11.1989 A matemática da vida
Como podemos
Interpretar
Na matemática
Algo tão inexato
Quanto a vida ?
É um problema
Difícil de responder,
Mas fácil de formular
Matematicamente.
Como podemos
Comparar
Os sentimentos
Aos números?
Números são
Tão exatos...
São tão exatos
Quanto o número
De estrelas
No céu,
Quanto a intensidade,
O brilho do sol.
Números
São tão exatos...
Tão exatos quanto
Nossos sentimentos,
Pois números
Só têm sentido
Quando comparados
Uns aos outros,
Comparados
Como sentimentos
Nem piores
Nem maiores,
Como amor
E o sofrimento.
Vale dizer
Que a vida
É a única
Coisa exata
Que nós temos,
E a matemática
Apenas incógnitas,
Como tudo
Que nasce
Do pensamento
Humano.
03.08.1990 Fato inevitável
Todo copo d'água
Transborda,
Cai no chão,
Se que quebra um dia.
A analogia
Pode não ser
De bom agrado,
Mas disso
Independe
O fato, pois
A opinião é relevante,
E os fatos não
Tão distantes.
Prefiro ter tudo
Sob controle,
Quebrar
Um copo
De cada vez.
09.11.1989 O artista
O artista
Se ilude,
Cria mundos
Passageiros,
É consciente
De tudo
Que passa
Sem ter
Acontecido,
Ao menos
Por um instante.
O artista
Se mascara,
Simula
Sentimentos
Para crescer
Interiormente.
E nessa subida
Pressente
A súbita
Mudança
No seu
Próprio
Ato de criar.
O artista
É mágico,
É forte,
Mas a realidade
Sempre
Consome
Os sonhos
Do artista.
A realidade
É como
Um presente
Que não podemos
Recusar,
Nem pela Arte,
Nem pelo
Que sentimos
Nem pela dor,
De simular
Os próprios
Atos
Do ator.
01.07.1990 Projeto de vida
Meu projeto
É viver
A emoção
Do meu
Instante,
Meu instante
Já durou
Vinte anos.
28.12.1969
01.07.1990
Olho
Para o futuro
Com a forte
Evidência
Que a vida
Continua...
23.06.1990 Vestígios
De um
Vestígio
Dividi
As águas
Do passado
Pra recomeçar
Tudo de novo.
Descobri
Que chuva
Não escolhe
Estação
Pra abençoar
E castigar
O que é sagrado.
Me deitei
Em chão mesclado,
Lamentei
Todo o pecado,
Não quis
Mais ser
Indiferente.
Conheci
A face da vida
Em sua essência:
Nada passa,
Nada desaparece,
Nunca estou só.
01.11.1990 Era uma vez
Era uma vez
Era outra
Era a rotina do tempo
Era a vacina do tempo
Era a poeira assentando
Era o prazer.
Era o prazer de contar os segundos passando
Era o prazer de contar pingos de chuva
Era a infância
Era a constância, a lentidão
Era assim
Até meu mundo estourar de vez
E serem os dias segundos
E os anos pedaços vazios
De uma súbita existência
Como os anos passam
Como os anos voam
Como é difícil lembrar
Lembrar do que fizemos ontem
E o passado?
Era uma vez
15.06.1990 Ambição
Amigo,
Vacilei
Ao pé
Da escada,
Não subi.
Me deixei
Ficar
Ao vento
Das coisas
Que a vida traz...
Acho...
Penso demais.
Dirijo
Uma palavra
Próxima
Para Alguém ao lado,
Escuto
Nada além
De barulho
Ensurdecido...
Será que
Falo diferente?
Comunico
Novamente
A intenção
De ser presente,
E como fico
Deixo estar...
Sou atrasado.
Quarenta
E tantos
Poucos
Muitos
Sonhos
A realizar...
Vacilei,
Não lutei
Por nada
Material,
Mas vivi
E existo
Em sentimento
Como quis.
21.06.1990 Consciência
Prazer
Desmedido,
E hora
Ao acaso,
Prazer
Proibido,
Paraíso
Alucinado,
Em tom
Indecoroso,
Em face
Rosada,
Em cheiro
De corpo,
Ao sabor
Do pecado.
Prazer
É remédio
Que cura
Nossa dor,
Prazer
É veneno,
Prazer
É nosso
Ardor.
Prazer
Mata a
Consciência.
01.07.1990 Lembrança
Marca
A atividade
De falar,
Ler,
Escutar.
Marca
O uso
E desuso,
O usar
E o abuso,
Marca tudo.
Marca
A vida
Como
Atividade
Vivida
Em constante
Transição
Pelos
Seus fatos.
Fatos
Também
Marcam,
Lembranças
Muito além.
01.07.1990 Luz
Luz,
O que seu
Corpo traduz ?
Luz,
Sua cor é
Preto ou branco ?
Luz,
Luz me faz
Inteiro.
Luz ilumina
O trabalho,
Me atrapalha.
Luz,
Luz é como pus,
Se espalha
Por todo lado.
Luz,
Luz é conta
Que chega em casa.
Luz,
Luz é cara,
Muito cara...
01.07.1990 Atividade
Atividade
Marca
Passagem
Neste
Instante.
Sou enfático
Errante,
Marco
Atividade
Por onde
Passo
Mas ela
Sempre
Se adianta.
Atividade
Independe
De meus
Passos.
29.06.1990 Avenida
Avenida
Correu
O mundo afora,
Abençoou
O tráfico,
Descreveu
A única
Saída.
Saí
E me
Levei
Por elas,
E num
Caminho
Trágico
Ela se fez
Entendida.
E o que
Restou
De vida
Me deixou
Em tédio,
Mas havia
Força pra
Lutar,
E eu apenas
Olhava
Pra frente,
Para a luz
Da avenida.
17.07.1990 Prostituída
Maria é fecunda,
Maria é bunda
Por todos os lados.
Maria lateja,
Maria almeja
Algo a mais.
Maria é cereja
Como boca,
Maria figura,
Nada mais
Maria é pecado,
Seu olhar
É consumação,
Sua boca
É fecunda.
03.08.1990 Convencida
E fala
Fala
Fala
Fala
Fala,
Mas é
Incoerente
Pela
Escolha
Dos fatos,
É jovem,
Acha
Que tem
Tempo
Para errar
E diz
Mas não
Condiz
Com o que diz,
É tudo
Papo
Por
Papo
Sem
Qualquer
Realização.
O dinheiro
Não lhe
Importa,
Nem lhe
Falta.
16.06.1990 É sexta feira
Segunda-feira,
Sexta-feira
A todo mundo,
Semana inteira
A todo tempo
É que eu mudo.
E faço e penso
Largo tudo
Inconsciente,
Na sexta-feira
A nossa noite
É mais semente.
Fim de semana
É outro dia
Estou amando...
O que dizia
Ao fim da tarde
Não sei quando.
Pra retornar
Ao sol do dia
Deixo estar...
Na madrugada
Eu me desato
A falar.
Conversa funda
De interesse,
Amor à pele...
Não me confundo
No calor
Do que se segue.
Pois sei que dias
Passam longos
Deixo estar...
Nova mudança
Em consciência
Pra mudar...
A luz da essência
No olhar
De brilho flor...
Na madrugada
Que se segue
É mais calor...
E segunda ou sexta,
Tudo é festa
Não sei porque,
Se é sexta-feira
Largo tudo
Pra esquecer.
21.06.1990 A semana
Sou grato
Pelo primeiro ato,
Passo dois
Tudo é fato.
Passado,
Nada é pouco
Consistente,
Aberto,
Tudo é semente,
Calado,
Tudo é vertente,
Em terço passo
De esperança.
No quarto
Passo calado...
Solidão
Ou reflexão ?
Quinto
Tudo me cega,
E vez e volta
A sexta faz
Pecado
E consumação.
Sábado passo,
Domingo também...
13.06.1990 A criação
Fruto,
Fragmento
Posto em laço
Está solto.
Flor
De primavera
Em brilho pouco
Ilumina
O horizonte
Que é semente.
E terra,
Mãe antiga
É indiferente
A isso tudo,
Ama os filhos
De seu parto
Igualmente.
Ama a clara,
Ama a gema,
Ama a casca
Da sua criação.
Mãe vive
Dessa alegria
Tão serena.
É mãe de tudo,
É dela mesma
Alegria em parte,
E parte igualmente
A sua herança
Entre todos os
Filhos,
Flores,
Frutos,
Sementes,
A sua fé
Ardente
À criação,
Na magia
De viver
Em comunhão
À sua arte.
26.06.1990 Tempos modernos
Perdi
O back-up
Do meu escrito
Mais perfeito.
Mona Lisa
Não haverá
Na poesia.
Camões
Pôde
Escolher
Entre
Os Lusíadas e
Dinamene.
Segundos
Precedem
Os fatos,
Whinchesters
Não perdoam,
Nem afundam
Lentos
Como barcos.
14.06.1990 Alusão ao viajante
Viagem,
Sou viajante,
Adoro vagem...
Viagem,
Sou cenoura,
Como antes,
Como vagem.
Viagem
É loucura
De canal
Obstruído.
Viagem
É miragem
De duplo
Sentido.
Viagem
É alusão
Ao viajante.
13.09.1990 Natureza Humana
Se o mundo fosse uma grande festa
Se o mundo fosse uma grande fantasia
E os sonhos carnavais
E os abraços muito mais,
Então sim estaríamos cansados
Cansados, desfalecidos
Desfalecidos de tanto dançar
De tanto dançar pelos cantos do mundo
Pelos cantos do mundo como animais.
20.07.1990 A droga
A festa continua
Na noite adentro,
As pessoas dançando
Ao sabor do vento.
A festa não é pura
Nem é lamento,
Pois é noite afora
E ninguém segura.
A festa é baile
Por amor à Baco,
A festa é barulho
Que torra o meu saco.
A festa é algo
Que nos faz pensar,
Sobre a noite fútil
Que não quer passar.
A festa overdose,
A festa maneira,
A festa insiste,
Não é brincadeira.
A festa,
A festa,
Tudo pode parar,
Na batida de sangue
Que explode no ar.
A festa,
A festa,
A besta louca,
A festa que invade
A nossa boca.
A festa,
A festa,
A droga maldita,
A festa perdida,
A festa que dita,
Uma noite sem fim,
Um instante fatal,
Onde tudo parece
Ser tudo igual.
14.06.1990 Ardência
Ardência,
Poesia
Intimista.
Ardência
Em noite
De carência.
Ardência,
Ardência
É pelo...
Ardência
É dormência
De indivíduo,
É beleza
Em corpo nu.
Ardência
É forte,
É proibida.
Ardência
Pode ser
Algo a mais.
09.08.1990 Êxtase partido
Suspiro,
Suspiro
Caiu
No meu
Ouvido,
Alimentou
Meu êxtase,
Meu clímax,
Meu mágico desejo.
Me deixei
Rolar
Pela sombra
Das dúvidas,
Retornei
E retornei
Ao meu
Lugar
Desfalecido.
Não pensei
Até o raiar
Do dia,
Mas o dia
Nasceu
Com as mesmas
Dúvidas
De antes...
Até quando
Vou poder
Suspirar
Pelo meu
Êxtase,
Até quando
Vou poder
Suspirar
Por você?
l7.10.1990 Coletânea
Posso,
Posso muito mais que tudo,
O tempo e seu conteúdo,
Insubstituível
De tocar.
Gosto,
Gosto sempre
Como tudo
Que possa merecer
Por outro instante.
Mas não mato
A minha fome,
Nem levo isso adiante,
Pois meu ardor é momentâneo,
E meu passado nada além...
Nada além que uma coletânea
De ardências e fomes,
Nada além...
21.09.1990 Escravidão
Tentativa feminina
Acabou
Em desgosto,
Vontade
Agressiva
Arranhou-lhe
O pescoço,
E causou-lhe
Êxtase
Absurdo,
Sofrimento mudo,
Euforia sensual.
Era gato
Como cio,
Era noite afinal,
Era só
O que lhe faltava
Pra sentir...
15.08.1990 Grama profunda
A grama,
O calor,
O calor de nossos
Corpos,
Faces,
Bocas
A platéia,
O ardor,
O ardor de não poder
Ser mais amor
Na grama solta
À primavera
Quem me dera
Fosse noite
Em nossos olhos,
E os comentários
Silenciosos
O desejo
Ficou preso
Em nossas
Roupas,
Na censura
Da platéia
Em altos
Brados.
29.07.1990 Virgindade
Brisa
Possuiu
Meu corpo,
Destruiu
O gosto
De nunca
Ter sido,
Calor
É amor
De maio,
Em tentativa
Falho,
Não posso
Entender.
Instinto
Veio além
Pra concluir
Meu pensamento
O corpo
Ressentiu
Esse momento
Moro
Perto
Do mar,
Toda brisa
É inevitável
01.11.1989 O amor tem muitas faces e muitas pessoas
Já tarde da vida
Me reencontrei
Deitado
Na estrada
Da ilusão,
Encantado,
Numa paixão
Corrida
De verão.
No horizonte
Os verões
Se passaram,
Deixando
Apenas
Mensagens caídas
Sob o asfalto
Inerte
Da paisagem
O rosto
Sorria
Sem ter
Porque,
Apaixonado,
Contente
Da vida
E sem querer,
Senti
Que no fundo
Havia algo
De errado.
Gritei,
Me joguei
Na estrada,
Mas no final
Não sabia
Aonde chegar
Com a face
Voltada
Para o horizonte,
Seus olhos
Ao longe,
Me levaram
Para longe
De tudo
Que eu
Havia perdido.
Apesar de leve,
Senti-me
Vazio,
Num quarto
De vida
Perdido
Em paixões.
Na semente
Da primavera
Aflorei
Em prantos
E chorei
Por tudo
Que me
Causou
Mágoas,
E dessas
Águas
Reguei
A paisagem
Seca,
Adormecida
E descobri
Com a nova
Que nascia
Que o amor
Tem muitas
Faces
E muitas
Pessoas
Em nossos
Corações.
01.06.1990 Risos, choros, lágrimas
Riso, choro, lágrimas...
Emoção de vento em popa,
Situação singular
Sem força,
Pra mudar coração
De moça.
Sorriso, abraço, cheiro...
Na relva, eu sob o luar,
Entre um amaço,
Um tapa no escuro
Me põe no lugar.
Lugar, luar é lindo...
Adulto só é singular,
Distante é precipício,
Quando é hora
De tudo chegar.
Nada, Tudo acontece
E tempo transparece viver,
Mulher nasce da hora
De moça morrer.
Entre riso, choros, lágrimas
De olhar o amor ao luar,
De dor que desarma preceito
E preconceito de ser e estar...
Moça para sempre,
Mulher indiferente,
À paixão da vida,
À força da vida,
Em corpo e alma.
De cabo norte e sul,
Meu amor só cresce, é azul,
De instante sem reflexão,
Meu amor é intenso, é paixão,
Entre risos, choros, lágrimas
De prazer e de nova emoção.
10.09.1989 O horizonte da alma
Fica a espera
Do próximo sonho,
Sonha se possível
Da próxima vez,
Tem saudades
De seus filhos,
Tem saudades
De tudo o que fez.
Pra certas coisas
Não temos meios,
De fazer
O tempo voltar,
Pra certas coisas
Não têm remédios,
Nem formas
De remediar.
Para o que fizemos
Não tem limite,
Por nossos filhos
Não podemos errar,
Por nossos filhos
Não temos limites,
Nem razões
Pra parar de lutar.
No horizonte
Nada é triste,
Triste é aquele
Que não soube dar,
Parte da alma
Que partiste,
Com o tempo
Que se fez criar,
Por nossos filhos,
Por nossas dores,
Em nossos corações,
Em nossos amores.
08.12.1990 Meu amor
Meu amor,
Porque o tempo passou ?
Porque o dia acabou ?
Porque você não voltou ?
Meu amor,
Os meus dias se passam,
Os meus sonhos te enlaçam,
Você pode voltar...
Meu amor,
Uma briga é triste,
Mas tristeza é mais triste
Quando não posso ficar com você...
Meu amor,
Eu nem sei se te amo,
Mas mesmo assim eu te chamo
Pra gente se amar.
Meu amor
O que eu disse
É tolice,
Eu não sei
Porque disse
Tanta coisa
Sem pensar
Pois eu sinto,
Eu te amo,
Te desejo,
Te chamo,
Pra que eu
Possa falar
Na verdade
O que sinto,
Pois se não digo
Eu minto,
Pois preciso viver
Esse amor.
05.09.1987 Sinceramente
Todo dia acontece
Nas ruas,
No silêncio das suas
idéias vagas de mim,
Mas já nem me lembro
De instante,
Nem sei se distante
Esqueço de ti,
Pois vagamente te conheci...
Mas eu vivo assim
Meio louco,
Mas mesmo assim
Ainda é pouco,
Pois eu sinto
Sempre tanto
Que fica difícil
Te escrever
Sinceramente...
12.06.1990 Fecundação
Em face luz
De novo
Estado
É novo
Amante,
Em pele nua
A força sua
É como antes.
Em gosto
É vida
Não desgosto,
É amor
De instante,
Em tato
É fundo,
É louco,
É tudo
Amor amante.
Calor sereno,
Leve e ameno
Há de estar,
Em corpo
Pleno
Quente e
Pequeno
É meu tocar.
À face viva
De emoção
Ao toque fundo,
Me sinto
Todo
Possuído,
Preso ao
Seu mundo.
Doce
Magia
De sentir
Você
Tão bela,
Quente é
Energia,
É viva flor,
Me entrego
A ela.
Em instante
Fruto
De razão
Posso deixar,
Em posse sua
Meu sentimento
Há de ficar.
Preso ao seu
Mundo
Como fruto
Deste amor,
Sinceramente
Deixei plantar
O nosso amor.
25.06.1990 Instinto interior
Carícias ardentes
Nos fazem diferentes,
Nos fazem mais próximos,
Confidentes,
Em sono velado,
Em corpo colado,
Em desespero
E sedução...
A natureza do instinto
Não se desfaz,
Buscamos a perpetuação
Da nossa espécie,
Vivemos o cio
Da criação!
06.12.1989 MEU AMOR
Meu amor é como
Uma mão que me segura,
Como uma mão
Que me sustenta
De vida e gosto,
Que desarma minhas
Defesas
E desfalece meu corpo...
Meu amor é como
Uma mão que cai
Sobre meus ombros
E me desnuda
Pouco a pouco,
Com olhos fechados,
Com o corpo aberto
Para tudo que o toque
Puder alcançar,
Como tudo que o desejo
Puder conquistar
Com o carinho de
Um instante único,
Repleto de ação!
Meu amor
Não é só o que quero,
Meu amor
Não é só o que eu sinto,
É muito mais...
Meu amor
É de corpo inteiro,
Meu amor
É tudo o que tenho,
É o que não me faz
Simplesmente viver
De um momento
Que já foi concebido
E completamente vivido
Com você,
Meu amor...
08.05.1990 Arte Maldita
Encare o amor
Com arte
Que eu faço
A parte minha dor
Como é dito,
Mas não mistures
Dor comigo,
Pois eu chego e
Penso diferente,
E não carrego
A solução
Para este instante.
Levante
Dê o primeiro passo,
Que eu faço
Da ilusão
O seu destino,
Me abra a porta
Que eu te invado
E deixo ser
Felicidade amor amigo,
Com sangue ardente
Na corrente louca
Do maldito instante
De paixão alucinada.
Amor ardente,
Arte minha
Nossa dor
Não é preciso,
Ter-se em mente
Um desvairado
Beijo louco-enlouquecido,
Na aquarela o teu batom
Todo espalhado,
Em face pele de emoção
Ao meu agrado.
Sincera é fria,
É noite ao escorregar
Pelo meu corpo,
Em mente cria,
A emoção ela,
Que envolve e gela
Ao toque quente
Do teu rosto,
A parte minha
Raciocínio irmão ardente,
Que se dilui
Na paixão como é pó,
Nas curvas ela
Corpo só
Alucinado,
Maldita flor
É o meu agrado,
É minha arte,
Meu amor.
30.05.1990 Amor paixão
Lindo são seus olhos,
Serena é a sua face,
Mirando não sei onde,
Não sei porque,
Não sei quando.
Leve é o seu sono,
Como outono,
Seus amores,
Seus invernos,
Seus temores,
Seus amigos,
Suas cores.
E há quem diga
Que não te entende,
Que nem liga,
Nem desvenda
A vontade
Por trás
De seus atos
Tão diretos,
Tão ingênuos.
Também pudera
Ter você
Apenas poucos anos,
Dezessete,
Dezoito,
Dezenove,
Assim tão jovem
Primavera...
Ainda não sentiu
A dor do parto,
Não é mulher,
Nem é severa
Consigo mesma.
Não se protege,
Quer aventura,
Não sei onde,
Não sei porque,
Mas é a idade,
Mas é a idade,
Mas é a idade.
Vago continua
Algum lugar
No coração,
Paixões,
Paixões são amores,
E alguém sem temores
Confunde amor
Com paixão.
Pois lindos
São seus olhos,
Sereno seu olhar,
E quente o seu corpo
De criança a desvendar,
O mel da idade
Por não saber
Felicidade
De viver sem ilusão.
12.06.1990 Cor ação
Chove
No campo
De cores
E de cores
Não posso
Passar,
Nas águas
De um
Segundo
Estado,
Sem que
Eu pense
Em me
Renovar.
Das cores
Às dores antigas,
Que destoam
O ardor
Da estação,
De chuvas
Que regam
Amores,
À nova emoção.
Pois
De tempo,
Ao tempo
Se passa,
De idéias,
O que sobra
É a razão,
Para a
Chuva
De amores
Que passa,
Um pensamento
Não é solução,
No poente
De seus
A flor
Da pele
A cor
Ação.
10.05.1990 Divagação
Amor e ódio
Pode ser
Que não
Machuque,
Olhos de pedra,
Ferros, braços,
Olhos teus.
Magia negra,
Não há nada
Que perpetua
A riqueza
De Alguém
Que Não é teu.
Pode em vida
Meu amor
Ser diferente ?
Pode a vida
Ser amor
Como se deu ?
Mas dá a vida
Uma palavra
Que não mente,
É a essência
De quem nunca
Se vendeu.
Amor não triste
Só é para a madrugada,
Posto em ferro
Olhos úmidos
De céu.
Onde se vive
Sempre
Existirá
Amor e amada,
Pois nessa vida
Eu caminho
Entre os meus.
23.06.1990 Intenção secreta
Minha vida mudou
Completamente,
Quem diria estarmos
Distantes,
Presentes,
Neste dia...
Como se tudo fosse passado,
Sem sentido, indiferente,
E sentíssemos
Saudades um do outro
Frente a frente...
Além de tudo
Aconteceu
Em seus olhos
A intenção
Que não devia,
Posso expressar
Meu pensamento ?
Ou deixo passar
Mais um momento
De reconciliação?
Me convida
Pra conversar
Mais uma vez...
01.05.1990 Pode ser...
Pode ser que em algum lugar
Você possa me esperar,
Sem que o tempo passe,
Sem que a vida passe
Por nós correndo,
Fazendo o momento passageiro
Por um instante.
Eu queria fazer este instante eterno,
Como tudo que não ficou por ficar,
Nesse instante em que
Nossos olhos se fecham por um instante
Pra contemplarmos a magia
Do que criamos juntos
De sonhos antigos,
Que o tempo deixou mais doces,
Adormecidos, tranqüilos,
Como os sonhos que tivemos juntos
No nosso sonho a dois,
Enquanto amanhece o dia
E com ele a magia
De reviver o que não foi vivido
E de sentir o proibido
Na madrugada que não chegou...
29.07.1990 Partida
Sonhei
Com você
De leve,
Fiz uma
crítica
Breve,
Vi você partir,
Mas não chorei,
Nem chorei
Pelo seu pranto,
Pois saudade
Existe
E realidade
Também,
Nada,
Nada pode ir além
De nossa
Confiança,
Nada pode ir além
Da distância
Que existe
Entre eu e você
O encanto acabou
E agora
Nesse instante
Me despeço
Levemente
Saudade,
Saudade haverá
Saudade nascerá
Todos os dias
E esperanças
Também
29.08.1990 Passagem de esperança
Quem sabe na virada do mês
A gente possa escrever
O que o destino fez,
Quem sabe na virada da vida
Possamos viver a magia
De um dia talvez
Límpido
Como os tímidos
Olhares recuados
Na imensidão
De um reinado
De eterna esperança.
A luz é doce
Como a passagem do dia
O nascer da criança.
24.06.1990 Gravidez
Lívia,
Aliviado
Respondi
Que a
Queria...
Alivia
Minha
Vontade
De crescer
Em pleno
Corpo...
Quero responder
Ao meu Instinto,
À Lívia...
Lívia
É personificação
De gravidez...
25.06.1990 Sono profundo
Divina mordomia
De ilusão
Sentimental,
Alegria vaga,
Esperança cega,
Lembrança
Que traduz
A paixão interior
Harmonia !
Luz, sol, mar, terra...
Tudo se completa
Pra esboçar
A reação
De nossos olhos,
Palavras são vagas,
Carícias intensas,
No instante crescente
De realização final.
O sono profundo
Recolhe
Meu cansaço...
02.02.1990 Amor único, amor só
Saudade
Me dá
Inspiração
Nas horas
Poucas,
Passadas
A sós,
Entre
Amigos
Amantes,
Nas léguas
Distantes
De um passado
Único,
Marcado
No trajeto
Como só
As dores
Marcam,
Entre
Amores
Nem piores,
Nem melhores
Como nossos
Amores únicos
E fiéis
Aos sentimentos
De dois,
De três,
De mil
E um amores,
Diferentes,
Todos ardentes
Como fogo,
E que
Marcam
Como só
Os sentimentos
Silenciam,
Como nós
Que os guardamos
Presos,
Soltos,
Em liberdade,
Na campina
Coração
De mil
Amores,
Na campina
Coração
De nossas
Dores,
Sonhos,
Ilusões
E esperanças
De viver
Um grande
Amor
Até a morte...
01.06.1990 Relato a alguém
Bem, pode ser
Não seja a hora,
Mas pode ser
Que eu vá embora
Sem falar
Sinceramente
Com você.
E aí, como se fica
Se eu me vou
Tudo complica,
Preciso falar
Com você.
Sussurro
Divagação,
A voz sai
Do coração
Tão quente
Tão ardente
Como nunca.
Nunca mais
Vou te esquecer,
Meu pensamento
Pra você
É uma parte
De paixão
Mal resolvida.
Pois a outra parte,
O coração,
Que me envolve
De paixão,
Paixão secreta,
Beijo só,
Nada me resta.
E o que mais
Pode acontecer,
Se eu me vou,
Se vai você,
Se esta estória
Nem é pra mim
Nem pra você.
Sei, não existe
Explicação,
O seu calor
É ilusão,
Ao toque lindo
Primavera é verão.
Na estação
Da nova vida,
O que se planta
É o que germina,
A amizade
Linda sempre
Vai crescer,
Ao leve toque
Da palavra,
Como uma flor
Da madrugada,
Que com carinho
Se abriu
E floresceu,
Entre delírio
E consciência
Entre a loucura
E a decência
De duas
Pessoas iguais.
29.05.1990 Novo rumo
Meia volta volver
Ao passado passageiro
Meia vida esquecer
Entre o passado verdadeiro
E a realidade
Escrita por nós ontem,
Pois nós como fomos,
Como pudemos,
Como esquecemos,
Como vivemos
E viemos parar
Nessa realidade
Tão condicionada,
Tão confusa.
Tantos e tantos
Arrependimentos,
Como voltar atrás ?
Amargos e antigos crescemos
Já não possuímos paz
Para sentir o nativo
Passado que já foi nosso,
Pois não houve momento,
Não houve coragem,
Não houve vontade,
Nem arrependimento,
Pelo que fizemos
Ou deixamos de fazer,
Pelo que dissemos
Ou deixamos de dizer,
Pois o que nos resta é memória,
O que podemos dizer a respeito ?
Além de tudo,
Alguém mudou em nossas vidas
E nessa nova despedida
O que podemos viver
Além de uma profunda reflexão
Sobre o que aconteceu,
Sobre o que nos perdoou
Assim de leve e foi embora,
Sem se voltar para trás,
Sem dar esperanças,
Ou seduzir a criança
Que existe dentro de nós.
Alguém já maduro
Caminha o mundo afora,
Caminha assim para frente
E some, vai embora,
Alguém já seguro
Nos parece indiferente,
Mas é gente por sinal
E ama a vida como tal,
Completa,
Complexa,
Cheia de desvios
E desencontros...
Alguém já distante
Não parece tão maduro,
Seus passos solitários
Ecoam leves no escuro,
Num indo e vindo permanente
Que nos confunde por sinal
E nos faz sentir ardentes
Entre um amor paixão fatal
À um novo rumo...
13.06.1990 Amizade velha
Proibida
Ausente,
Próxima
Presente...
Em algum lugar
Vou te encontrar...
Pode não ser
O mesmo lugar
De tantas vezes...
Nem como antes
Vou te ver,
Nem sei ao menos
O que dizer
Frente aos seus olhos...
Sei que algum dia
Vou esquecer...
Sei...
Ainda passo por você
Frente a frente.
E aí ?
Você pergunta :
Porque tanta
Distância ?
Olho nos olhos
E respondo
Que é a distância...
26.06.1990 Amostra grátis
Amostra
Grátis
De paixão,
Experimento
Sensual
De sedução,
Perfume
Indefinível
De mostrar,
Olhos serenos...
Corpo
E mão,
Respiração
Toda alterada,
O coração
Marca
A batida,
Pulsação
De corpo só
Marca o tempo.
O suor
Colhe amostra
De amor,
Desinteresse
Entristece...
26.06.1990 Dor forte
Matem-me
Agora,
Ou seja
Incompleta
Para sempre...
Sou paixão
Destrutiva,
Dominância
Mágica,
Amor em
Evolução.
Relaxe,
Sinta
A maldição
Do meu toque:
Forte,
Indolor,
Agradável,
Sob medida
Para o seu
Corpo
Intocável...
Eu sou dor,
Sou paixão,
Sou amor.
19.04.1990 Mentiras
Passa na sua cabeça
Que te amo ?
Passa no seu coração
Que eu preciso
De você ?
Tudo o que penso,
O que desejo,
Tudo o que sinto ?
Mas você está desligada,
Está fria,
Muda e mudada.
Não consegue ver
Que me faz
Viver pior,
Não ressente,
Não quer nem saber.
Pode ser que algum dia
Eu possa te entender...
Mas não pense
Que não haverão
Tristes momentos,
Que você não vai lamentar,
Que vai ficar intocável,
Que vai continuar
Linda em meus sonhos.
Mulher o tempo muda,
Os vícios surgem,
Você passa.
E então serei eu
A te tomar nos braços,
A te ninar
E contar casos da vida
Que vão diminuir
Seu sofrimento.
E aí você vai me entender
E vai colher
Na amargura
Uma lição de dor,
Mas será tarde
E não haverá
Mais amor,
Só sexo
Entre dois
Velhos
E amargos
Amigos.
19.08.1990 Partida mulher
Partida,
Bebida
Triste
De engolir
Queima a
Esperança,
Condição
Que não se
Presta
Pra fazer
Sonhos
Levantes,
Contra
Melancolia,
Baixo astral,
Indigestão.
São todos
Vivos,
Sonhos
Bandidos,
Tenho
Morrido
Várias
Vezes
E muitas
Outras
Levantei
E muitas
Outras
Não senti
E muitas
Outras
Não amei
Como você,
Mulher
Partida
19.08.1990 Dívida a pagar
Dívida,
Não sei
Como pagar,
Não sei
Como contar
Sua história
Memória,
Memória
Acabou
Em plena ação
Face calada
Memória,
Memória
Nostalgia,
Memória
Melancolia,
Memória
Melancia
Doce,
Cheia de água,
Cheia de volume,
Não significou
Nada,
Nem mudou
Nosso destino.
Nossa vez
É nossa parte,
Arte é feita e
Dividida
Como arte,
Dívida
Não tem preço,
Dúvida
Mantém
Tudo igual,
Nosso nada
E um ato sensual.
12.06.1990 Música fato
Ouvi
Uma música
Ao acaso,
Ela me lembrou
Morte...
Ouvi
Uma desculpa
De atraso,
Ela soou forte...
Ainda não morri!
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