02 junho 2006

Diálogos Poéticos - o livro

Diálogos Poéticos

Em Diálogos Poéticos, temos uma coletânea de poemas de vários personagens virtuais, surgidos em Chats de Internet e Fóruns de Poesia.

Muitos destes personagens acabam surpreendendo devido à qualidade de sua opiniões e a forma com que a emoção é lida na narrativa poética construída por signos e ausências de...

Neologismo são bem vindos, afinal a poesia permite um pouco disto

: criar e recriar a linguagem anarquicamente.

Por outro lado todos são capricornianos, ainda que a experimentação tenha apagado certos traços do autor.

E este se rebela absolutamente à idéia de fazer aniversário entre o Natal e Ano Novo!

Apresento portanto Emiko, Criança Levadinha, Walker, Flor e Hello.

Dedico esta tentativa de literatura à “Pedra no Meio do Caminho” e à “Semana de Arte Moderna de 1922”.

Macunaíma à parte, vamos delegar as honras da casa à EMOÇÃO, personagem constante de cada verso e de cada prosa.

Críticas são bem vidas, afinal nada é perfeito.

Obrigado e bom apetite!

Emiko

Emiko é um pessoa muito sensível, dedica-se á cerimônia do chá e a partir desta ótica busca uma reflexão filosófica para os sentimentos humanos como somente ela poderia fazer.

Neste universo tudo é possível e acontece, mas existe uma certeza e uma constância que jamais é abandonada.

A vida transcorre em passagens sutis e cadenciosas, como se houvesse um grande ritual a influenciar nossos sentimentos, mas Emiko sempre surpreende, pois ela é real e virtuosa.

E tudo a sua volta ela observa, como se cada segundo fosse o último, o mais importante de todos.

A luz – 24.10.1998 - 2:27

luz

facho que contrasta

marcante beleza

sob chávea escaldante


luz

contrasta com sombras

glorifica-se ao formar

figuras graciosas sobre a névoa do chá:


líquido macio e misterioso de ritual zen

bebido ao redor do nada!

Fidelidade do vazio – 24.10.1998 - 2:36

certa vez alguém disse:


participar de uma cerimônia do chá é como dirigir

é um ato inconsciente de grande concentração

não existe passado, presente, futuro

apenas as mãos, os olhos, a boca

acompanhando cada momento

e subitamente acontece o nada


um vazio de fidelidade

e todo conteúdo

que jamais significa, ou jamais dispersa

até que a última gota se evapore no vácuo de mentes

a repousar no vazio ritmo

de intenso ato!

Como uma pluma – 24.10.1998 - 3:00

como uma pluma

passei horas e horas

passando

concentrando

distraindo

dispersando


como um pólo

cada peça do cerimonial atraía


as mãos tocavam

mas os olhos não viam

movimentos silencioso de fada

jamais sentidos


pois repleta

estava com meu eu


passando-se horas

que leves foram

pelo vento

como plumas


A influência do vazio - 24.10.1998 - 2:48

a influência do vazio

de nada altera o rumo das coisas

o ritmo do nada

a vontade de alguém


pois apaga-se um instante

para que outro nasça além

e outro ainda surja noutro lugar


: lugar vazio


lugar de nada

que passa então

para que nada passe sem conseqüências

para que nada surja sem implicar

na suposta consciência de outro momento

complexo processo

fenômeno brutal


transformações

gênese

milagres


que acontecem paralelamente

a cada segundo que vivemos


e que exatamente por isso não importam

pois tudo nasce

quando existe o amor


pelo que fazemos intimamente

num ritual qualquer

que cria e recria

um mesmo momento jamais igual

pois existe copos e copos

rituais e rituais


: e o chá!

Sede de amor – 26.10.1998 - 23:54

muitas vezes ficamos afoitas com sede de amor

o tempo passa... ansiosas... ficamos à expectativa


em expectativa... frustramos nossa espera

deixamos de realizar

deixamos de compartilhar

e aumenta nossa sede


deixamos de lado nossas rotinas

nossas tradições e trabalhos

esquecemos nossos rituais

perdemos a concentração no ar

e tudo fica sem gosto e nem sequer

sentimos o aroma da roupa fresca e asseada

as mãos limpas e ágeis

a chaleira quente e escaldante

névoas de um ato libertador

tal nossa sede: obsessão


lentamente o tempo passa

e com ele nossas esperanças...voltamos à terra

e sentados ficamos a espera de algo

a sede é então diferente

voltamos às antigas vidas

à cerimônia mecânica do chá

talvez não com tanta intensidade ou fé


mas a vida é o que é

e marca-nos com o frio da noite

com o calor do fogo


e redescobrimos nos atos simples da vida

que podemos a cada instante redescobrir o sagrado

no usual


preparar o chá

na verdade é um ato para o corpo

a alma é livre para o que bem entender


a sede de amor é normal às mulheres e aos homens

mas nem todos tem o zelo de preparar

de traduzir, de sacramentar um sentimento nobre


mecânico é o movimento de minhas mãos,

mas meu coração é livre para temperar

a água e a erva

traduzindo-se no gosto, puro

o tempero revelador da magia do verdadeiro amor

pois antes de implorar

sede (vós) amor sincero e dócil

antes de espernear

sede (vós) amor benquisto e doce

pois esta é a lembrança

que deixo na cerimônia

e eternizo na ardência

de uma fé contida


: Eu apenas


guiada pela mecânica

e liberta pelo amor

pois não tenho sede

quando compartilho

sede vós

seja quem for


: serve-se o chá!

Pensar... Pensar muito ! - 24.10.1998 - 2:24

pensar... pensar muito !

desde o princípio de tudo é muito pensar


até envelheço !

mas prefiro o meu canto

meu canto silencioso

meu ritual

meu tempo que passa

para encher-se de chá


um copo vazio

repleto de ar

Mudando meu destino – 27.10.1998 - 12:04

mudando meu destino

pelas mesmas portas

seria possível fazer melhor?


mudando o destino pelas mesmas portas

como seria o caminho só?


mudando o destino fazendo igual

nem sempre alcançamos

nem sempre chegamos


Mas

Como?

Onde?

Porque?


se as portas são as mesmas ?

se os caminhos são unos ?

se é tudo igual !


mas na realidade não é:

nós que mudamos

ao redor de nós mesmos

e não percebemos

Por que andar em círculos ? - 24.10.1998 - 1:47

por que andar em círculos ?

porque não esperar...

porque não contemplar...

porque não usufruir...

o que está ao lado


Pra que tanta busca?

pra que tanto mistério

se a vida nos é um livro aberto

tão quente quanto um copo de chá fumegante

numa fria noite de inverno ou verão


Os ciclos somente existem

para os que vivem do passado


meu caminho é ora reta

ora zig-zag-zig

ora um salto no espaço

ora uma queda repentina

mas jamais de braço

pois não jogo com o sagrado

nem aposto no lado mais imediato


apressem-se

pois senão o chá esfria

e perdemos a viagem da verdadeira transformação


tomemos deste chá

simples e sem voltas

quente mas não impossível

suave, amargo, mas doce


delegar

talvez delegar

aos que nasceram

para dar voltas


enquanto isso aprendemos

e vivemos

de atos simples

pois estes são os mais sinceros

e quem sabe sagrados

Fazemos muito sem pensar – 24.10.1998 - 2:01

fazemos muito sem pensar !

pois muito sentimos

pois muito amamos

pois muito intuímos

pois muito mentimos

e pouco louvamos


alguns são budistas

outros : alquimistas


prefiro a turma da ala independente

que não pensa para sentir

que não pensa para amar

que não pensa para intuir

que não pensa para mentir

mas que muito louva

pois nada pede

apenas realiza

uma cerimônia de grande silêncio

e muita significância


o ato às vezes é a resposta

para grandes questões da humanidade

vamos tomar nosso chá !

Amor com chá – 24.10.1998 - 1:56

amor com chá

não podemos misturar

amor com pimenta

gente boa não comenta

amor com marmelada

confusão melecada


amor, amor, amor

uma rima sem valor

na medida que não surpreende


chá

é água com mato


mato é vida que nasce em todos os cantos

se renova como o amor

mas é muito mais simples

talvez comum


mato

é o nome pobre da erva nobre que muitos veneram

mas que nasce da terra como todos os matos


e a verdade é a terra

tomamos chá

que vem da erva que é mato que vem da terra

tomamos chá

que vem da erva-mato da terra: água suja ?!


realmente

verdadeiramente

tomamos terra

água que vem da terra

e erva que vem do mato que vem da terra


como é interessante a vida

tudo vem da terra

e tem gente que reclama

estou todo sujo de terra !


tomemos nosso chá

antes que esfrie

certas pessoas são muito complicadas !


Criança Levadinha

Quem nunca viu uma criança levadinha?

Aquele pequeno ser que nos surpreende com suas perguntas, que faz tudo parecer brincadeira, que olha a verdade de frente e nos coloca em situações complicadas?

Mas jamais imaginamos a criança com um ser humano completo, dotado de pensamentos próprios, de uma filosofia de vida e de opiniões.

Isto mesmo, quero dizer que ignoramos a palavra da criança, sua presença, seus sentimentos.

Mas para provar que toda a vida é inteligente, vamos ler o que ela fala, a seu modo, sob o seu ponto de vista.

Tios e tias – 26.03.1999 12:25

tios e tias deste espaço

quero muito aprender convosco

sou meio levadinha

criança criancinha

acabei de nascer...


risos...


mas prestem atenção

não vem não tentando dizer

que a vida é muito complicada

e que filho é probrema !!! risos...

sou criança...

não tenho má fé

e por isso às vezes choro...

Bom dia criança amada – 26.03.1999 8:54

bom dia criança amada

o dia já despertou

estamos todos muito ocupados trabalhando

acordaste com fome?

então toma esta torradinha

mas não vá fazer sujeirinha...


e come, come, come

como as crianças tem fome?

fome e fome de amor...


damos o simples

elas sentem o infinito !!!

Meu primeiro olhar – 26.03.1999 12:57

hummmm, que soninho

sentia sentimento chegando

o corpinho encolhido

havia perdido peso

hummmmm cadê meu quentinho

estou com frio

hummmmm que bom

o que será isso

abri meus olhinhos e vi um sentimento vindo

e falando com carinho...

hummmm senti seu cheirinho gostoso

tão quentinho...


logo em seguida pra meu espanto senti seu leite

hummm que gostoso

senti vida circulando em meu corpo

despertei pra viver e pra sonhar

fiquei novamente gordinho e cada vez

mais fofinho...

certo dia um anjinho veio me visitar

e me explicou que este mistério

chamava mamãe

mama, mama, maam, falei

e de repente me vi levinho e um barulhão:

ele falou mamãe, ele falou mamãe

e foi assim que aprendi

como se expressa felicidade

A voz da criança - 26.03.1999 - 12:45

a voz da criança é fina e alegre

irrequieta e doce

as pessoas dizem

qual é o bichinho que está aqui...


mas não somos brinquedos

gostamos de brincar

prá nós este é um assunto sério

pois o mundo é tão grande

e não temos como calar

nosso espanto...


gosto de ouvir estórias

mamãe sempre lia livros e lendas

contos infantis

falava sobre as pessoas

sobre os lugares que havia viajado

como conheceu papai

e então olhava pra longe

e eu a via distante

e gritava

mamãe, mamãe, mamãe

continua a estorinha...

mamãe sempre me falava

mas que criancinha levada!!!


é hora e dormir

vamos fechar os olhinhos e rezar...

Ave maria...

Uma grande descoberta 26.03.1999 12:49

vou contar um dia que foi o mais feliz

da minha vida...

mamãe chegou quentinha

me deitou na cama e me falou um montão de coisas

fiquei olhando, olhando sua boca mexendo

mexendo, mexendo, e cocei meu narizinho

e perguntei: mãezinha o que é deus???

ela parou o que falava e me explicou

que era o papai do céu!!!


sorri sorrindo e pensei feliz sorrindo

sou muito, muito amado, tenho dois pais...

e peguei no soninho...

mamãe, mamãe, mamãe...


Quantos dias faltam pro meu aniversário? – 26.03.1999 1:05

quantos dias faltam pro meu aniversário???

era a primeira pergunta que fazia logo de manhã

mamãe era tão linda...

ela me olhava e dizia depois de amanhã...


de repente disparava correndo pra cozinha

bater panelas e mexer nas coisas lá de cima

e de repente ouvia

cuidado com a panela, não mexe no fogo !

foi assim que aprendi a cantar...


quando cansava perguntava de novo

mamãe, mãezinha, que dia é meu aniversário...

ela sorria e dizia...

que lindinho...

depois de amanhã...

e saia correndo passando debaixo da mesa

e tapava os olhos com as mãozinhas falando

mamãe não me acha...

mamãe não me acha...


então tomava banhinho e ficava todo molhado

mamãe fazia um ar preocupado

mas sempre ria quando molhava seu avental

pati, pati, pati, batia na água com minhas

mãozinhas e perguntava

quando é meu aniversário mãezinha ???


foi assim que aprendi

que as coisas boas e gostosas

sempre vêm depois de amanhã...

e dormi tranqüilo pensando

mamãe, mamãe, mamãe...


Minha mamãe 26.03.1999 1:22

minha mamãe

enxugou seu rosto e me disse

mas que criança mais lindinha...

sorriu docemente e me tocou com as costas das mãos

mamãe te ama lindinho...

não chora se ficar sozinho...

não precisa não chorar...

abracei-a fortemente

e disse mamãe, mãezinha, tou com medo

que lugar é esse

ela me explicou tudinho timtim por tintim

disse que ela me amava muito

e que cuidou com carinho

quando estava na sua barriguinha

me contou que quando comia algo gostoso

sempre dizia, isso aqui é pro meu lindinho...

e ria, mexendo gostoso na barriguinha

eu lá quentinho ficava dormindo

embalado no vem e vai de seus passos cuidadosos...

mamãe me olhou bem nos olhos e chorou

tranqüilamente pois achou-me forte e crescido...

meu lindinho disse...

jamais vou deixar você

vi mamãe dormir com os olhos pequeninos

procurando para onde


e um dia acordei...

e não tinha mais a cama quentinha

pois mamãe havia dormido ...


então um anjinho disse

criança acorda criança olha lá...

foi então que vi mamãe lindinha na janela

falando adeus...

senti seu amor fluindo e entendi

que aquele era o mundinho dos sonhos

e que ela estava lá

sempre me esperando...

pra contar estorinhas...

pra me afagar...

obrigado anjinho, falei muito tristinho

mas sorrindo, pois jamais deixaria mamãe

e seja lá onde iria, teria seu amor

e sua luz...

mamãe, obrigado mamãe... e fui com o anjinho para

minha caminha... eram as primeiras horas de uma

nova vida sem mamãe...


Um novo dia – 26.03.1999 1:33


o dia nasceu como outro

e estava com meu pequenino corpo a balançar

no corrimão

me sentia quase que sonhando,

estranhei o silêncio e os gritos de perigo

também não havia quem limpasse meu suor na testa

me sorrisse baixinho dizendo...

quem é o lindinho da mamãe?


fiquei meio sem rumo

olhava todo mundo triste

falei para uma amiguinha

é ninguém parece perceber

lembrei-me da ave maria

e tentei recitar mas não lembrava

foi quando então a menina

que estava do meu lado disse:

não se lembra

a gente rezava assim:

Ave Maria...


Um depoimento – 26.03.1999 - 1:43

bem...

ainda não ganhei nenhuma bala

ninguém brincou comigo

ou me jogou para o ar...


mas não estou zangado

desde que me compre um sorvete

depois a gente vai comer batata frita

e passear no parquinho

e balançar na gangorra

e no gira-gira...

então vamos comprar revistinha

e você vai ler uma estorinha pra dormir

e aí a gente vai tomar café

escovar os dentinhos

trocar de roupa e ir pra escola

mas não gosto de lá tem um menino que me bate

e a tia nem me protege...

ahhh é o desenho...

durmo em frente à TV...

Amou-me intensamente – 26.03.1999 12:36

amou-me intensamente minha mamãe

ela me deu leite

me deu calor para meu corpo

mordi seus dedos

puxei seus cabelos

agarrei-me a seu pescoço

mas ela jamais me empurrava

apenas dizia: calminha criança,

mamãe já vai!!!

ficava triste quando ela demorava

e chorava baixinho

pois me sentia sem sentidos...


o mundo era tão grande

e mamãe tão bela

mamãe, mamãe, mamãe

chorava por ela

mas ela sempre vinha

mesmo que em meus sonhos

depois que morreu

e eu já criança

chorei tua morte

e ela forte me disse

viva criança viva

a vida é bela como tu

ama-a repleta e doce

pois tu nasceste pra amar

e somente amar esta vida

assim como a amo daqui tão quentinho

estou sempre contigo

não chore criança

não chore, mamãe já vai....


e então...

ela nunca mais voltou...

pois nunca mais chorei...

pelo menos no meu sonho...

e o vento soprou...

criança vem brincar ...

e as folhas voando, voando no ar....

Meu cantinho 26.03.1999 12:39

meu cantinho é muito legal

eu coloco meus presentes

que ganho no natal

um pedaço de papel colorido

um bichinho sem pernas

um coração vermelho pintado de jasmim

pois dentro em mim existe uma flor


desabrochei para a vida

e quando tristinho ficar

procuro meu cantinho

pois lá encontro um lugar

onde o meu mundo simples

é capaz de me dar

riqueza que o dinheiro não compra

carinho e amor

Ninguém quer falar comigo – 26.03.1999 12:29

ninguém quer falar comigo

procuro um amigo

um não um montão

um montão de amigo

pois fico muito triste

quando não existe mais ninguém

pra conversar...


fico com medo

e penso mamãe, mamãe, mamãe

cadê você mamãe...


mas você já morreu

foi pro céu

me leva contigo mamãe,

tenho saudades...

precisa voltar

senão choro

mais alto

mais alto

do que já estou chorando


criancinha precisa de carinho

de atenção

de comida

estou faminta

quero amor !

Meu mundinho – 26.03.1999 11:58


meu mundinho é bem lindo e pequenino

tem a extensão do meu quartinho

do jardim

mas nele cabem todas as pessoas

grandes e pequenas

fortes e fracas


meu mundinho não é uma fantasia

pois é realidade

e dentro dele realizamos simples sonhos

e fantasias


por exemplo uma caixinha

é um carinho ou uma caminha

um pedacinho de papel

dinheirinho de mentirinha

um livro colorido

uma viagem inesquecível

e alguém contando estórias...

uma viagem celestial...


não gostamos de esperar muito

pois o tempo é tão vasto

por isso preenchemos este vazio

com diversas brincadeiras

e quando estamos sozinhos

o anjinho vem pra nos ensinar

coisas que nos esclarecem

a respeito da vida

e do mundo dos adultos


lá é tudo muito complicado

pra ser feliz tem que sofrer

para se amar tem que haver sexo

pra se esclarecer tem que falar muito

pra se apaixonar não é suficiente carinho


nós criancinhas

somos apaixonadas pela vida

tocamos as pessoas

para sentir suas presenças

não pra tirar algo...


é engraçado

ver os adultos conversando

eles falam horas e dias

pra dizer que estão se amando

mas não se olham nos olhos...

ou sorriem para mim

o mundo deles é só deles

enorme!!!

e vazio !!!


vamos brincar ???

Tão complicado o mundo dos adultos – 26.03.1999 11:44

tão complicado o mundo dos adultos

pra que dizer tanta coisa pra dizer que se está só

pra que tanta angústia se é só esperar...


quando se ama é fácil voltar

e ficar juntinho quentinho...

pois não é preciso dizer tanta coisa


podemos sorrir e mirar-se nos olhos

pequeninos, fechadinhos...

risos...


e pra gente isso tudo não é novidade

pois os adultos tem que entender

que brincamos com a imaginação

por isso jamais esperamos

apenas amamos, amamos e amamos


pois os adultos não vêem

que amar é um tranqüilo faz de conta

não precisa complicar ....

é só começar...

Difícil de encontrar – 27.03.1999 12:09

acho difícil encontrar

alguém que compreenda as crianças

pois pra isso é preciso paciência

é preciso carinho

é bom dar dedicação

e sobretudo amor


mas não com beijo na boca

mas com um jeitinho gostoso

aconcheguinho

uma palavra simples de elogio


esperamos tudo da vida

olhamos pro mundo com imensa curiosidade

pra depois chorar baixinho de medo


temos muitos acontecimentos

temos muita fome

mas somos bem fortinhos

e apenas contemplamos tudo aquilo que desejamos

se choramos levamos palminhas

o mundo grande não é justo

primeiro nos mimam

depois nos castigam

deve ser duro crescer

e esquecer

esta grande riqueza que é a infância


o anjinho me contou

que é importante brincar

pois a alegria é um alimento

saudável e duradouro

mesmo velho

mesmo tolo


não desperiçamos um pinguinho

desta magia

e brincamos e brincamos e brincamos

até adormecer

então mamãe nos vê e nos cobre com seu amor...

Alegria – 27.03.1999 12:18


o dom da alegria é muito gostoso

sorrimos alegres e rimos de novo

pois o dia começou,

pois o dia acabou

pra depois recomeçar...


às vezes esquecemos delas

e ficamos chorões

e aí vem os grandes e nos mandam parar

e aí choramos muito mais


pois além de pouco alegres

nos sentimos abandonados


tem uma titia que é muito legal

ela nos conta estórias

nos ensina musiquinhas

e toda vez que choramos

canta pra nós parabéns e nos presenteia

com muito carinho e amor


outro dia ela me abraçou forte

e disse sorrindo

a vida é muito linda, sabe porque?

porque minha alegria é te ver...


e assim ela se foi...

mas claro que ela me deu uma balinha

pois era só o que ela titia podia comprar...


e fiquei feliz...

fiquei contente...

sorri...

pensando em tudo que poderia ter sido apenas sonho


mas em minhas mãozinhas

havia algo muito doce

mas não tão doce

quanto a minha querida titia do coração...

Titia tenho saudades – 27.03.1999 12:24

oi titia como estás...

tenho saudades de você...

nem sei de onde vieste

porque veio

para onde foi

mas sei...

me deste muito de si

e muito muito me distraí

escutando suas estórias...

até esquecia minha fome...

até esquecia que sozinho estava em meu cantinho

a sonhar horas de amor

quando junto com minha mãezinha

brincava de pegador

tudo tão distante

mas sem você tiazinha

que seria de mim

que seria de meu corpo

que sozinho estendido

se encontra no gramado

vejo longe agora

seguro firme tua mão

estamos voando, voando

sinto alegria imensa

por conhecer nosso senhor

ele é tão bonzinho quanto falas ???

tchau mundinho lindo

cuide bem de suas crianças

pra que elas não morram como eu...

Flor

A Flor está aqui por acidente, ela é o contraste razoável da mulher escrita pela ótica de um homem.

Seria razoável que ela voasse por forças próprias, e desta forma ela assim o realiza.

Flor é uma personagem forte.

Vence ao final e deixa sólidas sementes: no solo.


Buque de flores – 31.03.1999 3:49

em meio a perfumes e cores tão vibrantes
encontrei-me triste e pequena a pensar:


como tão simples poderia me destacar
dentre tantas e tantas e tantas...

bateu-me um sentimento de angústia
será que iriam me notar
me amar
me contemplar?

o dia passou escuro e eu insegura
e naquele crescente
notei que em mim
que a simplicidade florescia
e que na ausência de outra qualidade
o branco simples de minhas pétalas
resplandecia


e assim deixei de lado as vaidades
e me senti a mais flor
dentre tantas e tantas e tantas e tantas

passei a amar o meu momento
simplesmente sendo e amando meu destino

e ao contrário de antes
cada vez mais me envolvia
com aquela alquimia de perfumes
essências e cores

minhas pétalas vibravam para o alto
e nesta alto pleno e doce
celebrava meu amor ...
meu viver...

fortalecida em meu elemento
os dias se passaram cada vez mais prazerosos
decorei cada aroma cada nuance

e na magia de respeitar cada outro ramalhete
fui me ligando a cada qual
e seu destino
já não as invejava, as compreendia!!!

nisto se passaram dias
e como
e sem porquê
fui repentinamente
retirada do buquê

na seqüência veloz
dos acontecimentos: surpresa!
fui deitada
em um vaso só


única a banhar-me
em água fresca
sob o brilho de cristal
puro e suave
que me continha...

era tal qual eu sonhara
um lugar só pra mim
onde todos me contemplassem

mas de repente
eis que vi meu velho vaso
seco e despedaçado:
era eu a última das flores

chorei e lamentei por tudo isso
o sonho que então almejara
selou o meu destino na solidão

e do buque de onde estava
só restava uma lição:
uma saudade infinita
doutro tempo
de outras amigas...

pois vencida a vaidade
que me consumia
aprendi a amar e a amar
assim me transcendi
e não sequei tal qual as outras
imersas na inevitável preocupação
do envelhecer...

fiquei serena
a contemplar o senhor tempo
e o destino
e a grande conquista
que tivera sem querer:
sobreviver

e hoje estou aqui sozinha
não mais vaidosa
mas tranqüila e sábia
a esperar pelo meu tempo duradouro
quem me vê nem imagina a minha idade.

sou a flor branca
sincera e eterna
da paixão...

Um sentido belo na manhã - 1.04.1999 - 6:53

um sentido belo na manhã

se coloriu de azul e fogo

traços cortantes de cinza glacial

mensagens invisíveis de esperança...


lembro-me de noites elas

onde ficávamos na cama

sonhando e amando

até noite a cair...


mas depois da manhã havia a ressaca

falta de sinceridade

pedacinhos de culpas

disfarçadas

em um "oi" frio

num pigarro forçado

como quem diria: tenho que sumir agora.


destas lembranças

só me recordo de um vazio

de um grande vazio

que jamais preencheste


e quando voltava a dormir

ansiava pela inocência

que perdera num passado não tão distante

e chorava e chorava baixinho

pois não queria que escutassem

os eus de meu coração...


e todas as vezes o mesmo vazio

vadia rondei a esmo procurando solução

mas sempre olhando e não enxergando

pois me voltava para o "baixo"

abaixo do ventre


Mas na manhã seguinte

véspera de meu aniversário

voltei-me aos céus e pedi com força!


e foi então que vi

toda a beleza e esplendor que me havia sido negada

ela sempre estivera lá

e eu nunca a senti

pois apenas voltada para mim

jamais notei

que nós e eles estamos só pra revelar a grande

mágica da vida


e este segredo

está exposto num grande retrato celeste

pintado no céu verdadeiro das manhãs

nas manhãs de grande força

onde toca-nos a esperança no alto

no alto altíssimo das boas intenções


a verdade reside em sentimentos

e sentimentos constróem as emoções

meu céu de emoções agora é calmo, tranqüilo e

branco


e entre nuvens sou a mais clara

dentre elas

pois assumo-me flor

só nascida para amar...

e nada mais...


das lembranças do passado

daquele vazio que me consumia

nada lembro

nada resta

pois hoje

estou diante de mim pura e nua

pra ser julgada

e pra vencer e vencer e vencer


pois não mais vendo as esperanças minhas

pra mais ninguém

seja elas minhas ou de mais alguém

pois hoje não oculto mais o que quero falar

seja não, seja não não!


e marco assim uma linha divisória

entre o que permito e não permito

e jamais calarei esta vontade

ou falta de...


e na ausência de desejo

não deitarei-me pra tentar...

pra sonhar alto e decair...

pois sei que elevados são meus sentimentos

e que muito me custaram...


e quando eles dormem inocentes

e acordam como porcos assustados

nem revelam suas verdades...

nem me dizem sequer bom dia, como está?


e portanto jamais estarão aqui outra vez

pois neste lugar que me divido

prefiro ficar assim

apenas acompanhada com meus pensamentos

verdadeiros

com meus pensamentos que outrora

jamais existiram...


estou ocupando todo espaço

espalhada nua e repleta

na cama e no mundo

reflexa no céu

refeita pela magia da manhã


e assim acordarei mais bela

e buscarei abrigo noutra verdade

numa verdade que me respeite

que me satisfaça

que me aconchegue

e me diga bom dia, meu amor...


e não importa vigor ou sexo

e não me importa seja quem for

mas que me tenha e contenha em tua alma

pois flor preciso de terra fresca para ser e estar

pois caso contrário não viveria

apenas sofreria por nada !


meu amor que vem comigo...

temos muito a trilhar...

vem ...

amor...

seja quem for...

pois o céu está a nos esperar...

alcancemos tua altura numa troca descomunal...


que caiam minhas pétalas de tamanho êxtase e

ternura

e então estarei pronta para morrer

deixando nossas sementes assim plantadas

para o sempre do sempre!


Walker

Walker é um cavalheiro errante, vaga nas noites a procura de uma diva... de um par complementar... que lhe oferece não apenas prazeres do universo físico, mas também do etéreo, do místico.

Como um viciado ele busca a vida e quando a encontra se entrega à paixão como se nada existisse para parar tal amor, ou busca de...

Nesta caminhada insana não reconhece limites, cria a partir do nada, como se a vida resumisse neste ato: cativar!

Esta pessoa é acima de tudo um artista, que se revela com força e exuberância, pois é um ser eternamente livre e nada o prende!


A clara idade do desconhecer - 23.06.99 - 23:51

clara é a idade do desconhecer...

a transparência...

a fantástica alma calma...

o tranqüilo sofrer...

a viagem...


dois pontos livres...

que a cristalina verdade da força...

desconhece...


pois o conhecer da alma...

é sempre encontrar o caminho mais próximo...

entre o eu... o você...


cristal partido...

em infinitos pedaços de meu desejo...

o desconheço perdido...


entre os fantásticos cacos de minha alma...

calma...

serena...

tranqüila...

repousa... desconhecida...


e no surpreendente espaço...

raia uma nova idade...

clara idade...

de clarividade...

e intensa transparência... fantástica...


uma vida...

uma lembrança...


vou repousar aqui...

pra que se baste...

pra que repouse simplesmente...


e pura há de cingir a mais bela melodia...

tranqüila... vívida... eloqüente...


confirmando uma dúvida antiga: a vida vale a pena...


e serena...

há de cruzar o mais trágico abismo...

o mais escuro túnel...

pra reluzente tocar a mais alta estrela do firmamento...


pois em seu íntimo cultiva a fé...

sua verdadeira fé...

no sentido de Deus...


pois inocente... acredita no amor...

no grandíssimo amor...

que não tem limites...


pois esquece-se Deus...

e alegre dança a música da vida ao lado meu...

que não posso dançar...


e feliz olha para o horizonte...

onde posso estar em todos os minutos...


e na mais pura euforia...

ela se despe como uma diva...

e se expõe com ternura...

colhendo amor...


decaído em sexo por uma noite...


e qual mistério haverá após esta noite?

e qual limite restará após este êxtase?


amiga porém adormece claramente...

e flutua sobre o monte mais alto...da sabedoria...


sente o celeste toque do divino...

envolvida é... pelo sopro da vida...

e mesmo assim vivencia... repetidamente seu passado...


e não vislumbra...

e não compreende o que a toma...

e então todo azul lhe devora...


em inigualável paz...

e terra fica...

enquanto se esvai...

a trilha de um cometa errante... pro infinito...


e Deus ...

é testemunha disto tudo...

e no inferno registra este momento...


pois somente lá é que se faz todas as contas...

do que se deixou...

do que se deixou transformar...

e este amar... liberta o culpado...

e este amar... liberta a culpada...

e este amar... liberta o SER!


e eu entre tantos... continuo alheio a isto

tudo...

pois sou assim...

ai de mim...

como só...


clarividade a sua procura... eternamente!

Anoitecendo - 28/06/99 - 01:19

anoitecendo estão meus olhos...
quase encontrando você: noite envolvente...
e assim como um príncipe... adentro a noite...
desprotegida como uma virgem... de corpo e coração

mas levemente eu me deixo...
levar ao sabor do vento...
no veloz acontecimento deste viver...
que nunca finda... tal qual o encanto...
de um casal irreal: lua e sol...

e você tão aflita...
pergunta no íntimo...
porque tanto demoraste?
porque tão forte se ausentaste?
por quanto tempo haveria este ir e vir

que não tem fim...

abraçaria tua pele carinhosa...
envolvendo-a de azul que é meu cio...
pois doutra forma... seria rosa: meu ardil...
e a envolveria de acordo com tua vontade...
pois és livre !

e depois de tudo que houve...
me diz qual é a lembrança... que não deixo?
me fala qual é a palavra... que não toco?
me pede qualquer coisa ... pois dou agora...

e assim sempre foi na pura verdade...
o que não lhe dei que não tivesse pedido...
ou desejado?

e assim viciado...
abandono sua pétala flor...
pois semeado o amor... nascem os frutos...

e deste perfume sensual...
nasce o sabor gostoso...
pecado tenro e vistoso...
de nossa união...

vem noite gostosa...
vem intensa e mimosa ... frutificar...
pois o que eu não dou que não me pediste...
pois o que não desejo que não possuíste...


complemento de meu desejo...
pétala de meu botão...
suga-me o néctar... enquanto está fresco...
e me leva pra além ... da imaginação !

pois estou agora... aqui... novamente...
e anoitecendo você brevemente estará...

repleta de mim!



Todas as noites – 29.06.1999 – 19:26

Todas as noites ei de voltar como um mistério...
todas as manhãs fugir furtivo pelo ar...
e quanto ao amar ???

fico assim intensamente...
em você
querida e amada... amiga !!!


Um pensamento – 06.04.1999 – 13:36

um pensamento nasce diferente
tranqüilo cresce e sobe no horizonte


diria é o céu
diria é o sol avermelhado

é o nascer áureo do dia
um céu todo escaldado de amor...

a manhã tranqüila e doce
toca meu pensamento virgem
e o fertiliza de esperança


renovar velhas lembranças
corrigir erros antigos
refazer amigos
fortalecer tudo de novo...

vamos assim andando...
amando....
pulando alguma paixão...
para não nos perdermos de pronto...
pedrinha por pedrinha pelo chão...

e logo o chão fica brilhante
de tantas e tantas que andamos
que lançamos pedrinhas multicor...
resplandecentes
nos campos do Senhor...

e ele nos é grato...
pois sem nós jamais o faria...
jamais plantaria este eterno amor
chamado amizade!

verdadeira

ela resplandece em nossas vidas
nós a temos e deixamo-la partir
para que sempre volte
e retorne fortalecida amizade...

jamais esquecemos de nossos amigos
a mais deixamo-los livres
amais uns aos outros disse o homem
o filho do Pai!

e nós ouvimos estas palavras
e a guardamos no coração
tranqüilo e semente
sem outra emoção

pois em nós reside: Vida!





Hello

Hello é meu companheiro preferido, um sujeito infernal que malicia o que é celeste e sempre alfineta o proibido.

Este inferno original permite experimentações, rápidas descidas emocionais e vórtices intensos de saudade.

Ao final de tudo, enjoamos, enjoamos de sua densidade absurda e de sua profundez que não respeita nada.

Ele cospe no prato que come, e ainda ironiza o ato de fazê-lo.

Portanto, julgo-o genial, Lobatoniano, Arte-Modernista de 1922.

Hello é irmão bastardo de Macunaima, mas possui uma estética própria: infernal!

No fim este mau exemplo acaba influenciando todos os meus companheiros.

O público o odeia.

Mas nas entrelinhas, o destino escreve a ele em linhas próprias.

Sempre pronto para a guerra ele mal respeita o amigo, bota o dedo na ferida e lambe ao final

: o dedo!



Ciranda - 08.06.2001 – 14:11

Muita gente vai passar...

Muita água vai rolar...

Tanto vento pra ventar...

Mas é triste não voltar...


Volta o homem à paixão...

Segue a risca a emoção...

E voa...

E voa...


Mas sequer é avisado...

Que nesta vida é pecado...

Se tudo pode...

Assim vai ser...

Na ciranda merecer...


:O que lhe cabe...


De mão em mão a emoção...

Rola e vai com a paixão...

Passa anel...

Passa tesouro...

Tece a vida em vestes ouro...

Pois assim vai desbravar


:A terra virgem...


E o poeta vai estar...

Na ciranda a derramar...

Todas elas...

As tristezas...

Vai cantar toda destreza...

Deste bravo...


E toda gente vai entrar...

Na ciranda pra dançar...

Seja só...

Seja calado...

Seja par...

Seja casado...

Um a um vão todos lá...

Pois se é noite...

É pra dançar...

E o tempo voa...


Na cantiga...

Que nunca é atoa...

Voa o homem...

A mulher voa...

Voa a criança...

Roda o pião...

Tudo é festa... é diversão...

E a vida presta...


O cantador...

Canta calado...

Sonha em versos...

Pois é amado...

E tudo flui...


A noite envolve...

A maior das festas...

A vida é noite...

Uma seresta...

Mas quando a roda...

Começa a andar...

Todas pessoas...

Vão lá estar...

Pra cirandar...

Onde tudo é lindo...


Não Amo! – 30.05.2001 – 14:18

Não amo!


E daí se não amas...

Não amor com não amor...

Que se apague esta chama...

Que se esmague a flor...


Nada presta pra saciar meu eu agora...

Não me ame... vá embora...


Assim...


A vida me dará mais um segundo...

Uma certa distância...


E no fim...

Estaremos satisfeitos cada um...

Em seu mundo algum...

Escrevendo nada para o Nada!


Uma relação! – 28.05.2001 - 02:24

Em êxtase meu amor por ti ei de velar...

Apagar o cigarro em meu peito...

Revelar!

Outro aspecto de uma relação... cruel!


A cada dia! – 29.05.2001 - 02:46

Minhas feridas jamais cicatrizam...

Meus punhos e mãos soam sangue...

Na sutileza de algo dor...

Um desespero há de nascer

Cada dia pior...


Não por fazer desmerecer...

Quero muito conhecer... revelar...

Pra no dia seguinte abandonar... apagar...

você: cigarro... em meu sexo!


Estar – 30.05.2001 – 13:51

Estar aqui é muito bom...

Viver aqui é melhor...

Destruir veloz...

Ouço o som da tua voz... caindo...


Estar entre outros é vital...

Marcar um ponto é mortal...

Vive-se e morre-se...

Sente-se e dá-se... consome-se...


Estar como está deixe assim...

Bem perto ou longe de mim...

Sinto que a vida é um êxtase cruel...

Penso em sexo... com fel...


E estou...


Madrugada – 29.06.1999 – 04:03

Na madrugada que atravessa-me em horas ousadas...

Pensamentos do passado ecoam em minha mente...

E assim consumido...

Passo minutos transformados em horas em uma busca desumana...

Depois de muitos anos...

Esta antiga companheira (MADRUGADA)

toma-me refém de minhas emoções...

Que antes incontidas rompiam-se e chocavam-se com os ouvintes atentos de salas de chat e fóruns de poesia...


Penso que muito destas inúmeras sílabas roubadas... emoções provocadas...

Iras e paixões transcorridas são a antítese do que sou hoje...

Permaneço contido...


Às vezes recaindo no antigo subterfúgio da emoção... da ação... da explosão...


Feridas que dóem jamais cicatrizaram...

Pensamentos continuam a ecoar como raízes que ficaram assim profundas...

Profundas demais para arrancar ou esquecer...


Para todos que escrevem... penso que aflitos já passaram por algo semelhante...

Para os que amantes... todos que escrevem... deixam provas no pensamento...

E para os que buscam... a verdade é a que mais dói... a maior de todas: CHAGA!!!


Hei-lo bandido: o amor abandonado

Vaga perdida: paixão absurda e inconstante...

Deixa-me breu: lembranças de pessoas que não mais ouvi ou vi em minha vida de agora: PRESENTE, tempo impretérito que jamais repete erros do passado...


Decorre disto tudo um amadurecimento forçado...

A distância de um envolvimento maior ou menor com quem quer que for...

Seja por amor ou ódio...

Seja por tudo ou nada...

Seja então por existir...


Portanto não existo...

E estas linhas são pensamentos inexistentes...

Fluídos como o vento...

Penetrantes como o frio...

Cortantes como o brilho único do diamante...


Quem conhece magia...

Sabe a idade das pedras...

O poder da pureza...

O multiplicar do ardor...


No brilho que reflete pedra ou gema no íntimo...

Fragmentos de histórias do início dos tempos...

Hei-las de todas as cores...

Como testemunhas dos mil amores que viveu o criador...


Escolho a pedra útil...

A poesia sem amor...

A paixão sem objeto ou sujeito...

A vontade sem ardor...


Neste limite em que nada rompe qualquer limite...

Deposito sementes de muitas dores...

Muitas delas que nem mais lembro donde vieram...

Onde ficaram...

Nem quando dóem...


Pois entrego-as todas junto com as milhares poesias...

Que minha vida apago...

Entre papéis e CD-Rs que por muitos anos preservei como únicos e sinceros...


Hoje compreendo que eram um único teatro... e eu o elementar ator...

Sempre o máximo...

Quando valesse o mínimo...

Por ausentar-me sem dó...

Do que plantei se fé...


Muitas vezes penso musicando as notas dó, ré, mi....

Mil e uma vezes... cantarolei poesias impossíveis que apenas existiram em minha psique...

E desta reflexão...

Apenas tiro que a madrugada me usufrui nisto tudo...


Não sou eu que a exploro...

Mas é ela que me usa...

Como pena e papel de infindáveis solitários...

Casais perdidos... separados por razões mil...


Penso que o Brasil...

É um ótimo país pra se nascer...

Viver...

E amar...


Não sei qual é a conclusão disto tudo...

Mas se alguém puder me contar... peço: me conte...

Pois isto só é pra contar... escrever... reflexões muito além de mim, eu mesmo!



Poesia sem AMOR ! – 06.09.2000 – 22:29

Poesia sem AMOR !!!

Deitaria em solo santo...

Pelo verbo divino...

Sem lágrimas ou pranto...


Refletindo... infinito... gostaria de ligar...

Eu ao mundo...

Sentimento ao fundo...

Sem o apelo da parte...


Mas na voz que reparte... coração em dois... deixaria ao céu aberto...

Basta-me ouvir declarações de amor... VAZIAS...

Gostaria de pensar em algo diferente de rimas...


: VADIAS...


De músicas impossíveis...

De sons cruéis...

De verdades que não tocam... ao destruir...


Destituir-se-ia todo o estereótipo artista...

Todo melódico poeta...

Muito romântico e apaixonado...

Muito previsível e calado...

Explosivo em sentimento!


Em meu rítimo...

Jamais cortejaria uma dama...

Sem mais dispensaria alguém apaixonado


: HOMEM OU MULHER...


Pois no reverso de tudo existe o ato do VAMPIRO...

E como oposto do que é sombra...

repouso bandido...

Roubando pedaços d'alma...

Em conluio com o céu...


Lágrimas marcaram o meu caminho rumo ao inferno...

Mágicas me trouxeram qual vigor...

que hoje me escraviza...

Por isso é que busco...

No caminho amargo uma flor...


A qual seria apenas amada... talvez amor...

A qual diria estou casada... com igual destino...

E não desprezo ou menosprezo tua dor...

teu amor... teu tudo!


Criatura de meu peito...

Em teu leito vá deitar... sem lembranças...

sem sonhos...

Pois a noite é bela!

Vamos simplesmente ousar!

FAZER POESIA E PONTO FINAL !


Vórtice – 29.06.1999 – 4:03

Quedando em imensa velocidade...

Sinto tudo a minha volta girar...

absolutamente tudo!!!

Sem referências para me agarrar...

Sem pessoas ou lugar pra pousar...

Meu corpo é refém... tal qual o pensamento...

Sob a fúria do abismo que me traga e contém...


Muito além...

Em magia profana...

Vejo meu reflexo marcando forte...

linhas do destino pra mim mesmo...


A imagem se apaga tal forte é a turbulência... centrípeta aceleração que consome a alma...

Trazendo a calma... da linha negra que se cruza uma vez... apenas numa existência... (Morte)


Mas em pleno mergulho que ameaça a própria consciência...

Me entrego em corpo primeiro... e em alma...

Restando apenas o princípio... intacto... pois não pôde ser trocado ou preterido...


Despido e em fúria...

Meu eu animal... se harmoniza com o cenário infernal que me contém...

Uma queda de milhares da anos...

Séculos velozmente regredidos em imensa fúria...

Demoníaca fúria...

Que só os próprios o conhecem....


Assim fugaz...

Meu eu que nada resta....

Se reúne em tal jornada com seus iguais...


Num universo novo...

Uma nova ordem ressurge e satisfaz...

No princípio!!!

Ultra-hiper-romantismo - 29.06.1999 - 04:06


Ultra-hiper-romantismo!

Neo-gostoso e breve...

A história humana em ciclos...


Ciclos que vão e vêem deixando marcas

de tinta velha sobre a parede cheia de rugas...

buracos... cicatrizes...

Existe um ponto prevalente...


Um retorno constante ao tema do amor... do excesso de amor... e depois a sede de morte...

Românticos...

Ultra-românticos Poetas e Suicidas...

imaginam histórias que nunca viveram....


Amores que nunca colheram ou plantaram...

vítimas de seus sonhos e esquizofrenia...


O propósito deste algo... escrito!

É afirmar e reafirmar que nada do que leio sobre o amor...

sinto: reflete de fato o amor...


Nada do que leio do amar...

resulta de um sincero amar...

Não porque todos sejamos culpados...

Ultra-hiper-românticos ou drogados...

drogados virtuais em poesia!


Talvez shytara compreenda... ou grite... ou rebele com sua juventude...

Talvez eu: Hello o persiga e julgue tenazmente...


Talvez outros percebam que existe um ponto de saturação para o farfalhar do amor... amar...amor... amar... amor...

paixão que no fim de tudo redunda em SEXO...


Nada contra o Sexo! Tudo a favor dele...


Mas preferia que pudéssemos

falar diretamente nele!

deixando o amor e o amar

aos ULTRA-ROMANTICOS do passado...


Não quero ser super herói...

Hiper-poeta ou Neo-Casanova...

Quero ser apenas Humano!

Falar de coisas humanas...

Sentimentos sinceros...

Verdades tocantes...

Nada Mais...


E ainda citando:


... Eu quero uma casa no campo!


E Boa Noite!


Nas areias de um novo deserto – 20.06.1999 – 04:16

Na areia de um novo deserto...

Deito em solo o meu amar...

O meu calar...

Em infindável ardor...

Na imensidão do que sufoca...


Atravesso inutilmente...

Colinas furiosas e ardentes...

Colidindo com a chuva imaginária de minhas lágrimas...


Tudo é seco...

E então resigna-se o homem à caminhada...

Rumo ao incerto...

Repleto de medos e temores...


Toda dor de então é dissonante...

Canta-se com insanidade cada acorde que a areia rasga...

Mas ressurge ao peito...

Sangue vertente em luz de uma diva misteriosa: mensageira do inesperado...


Chove-se senão na areia virgem de um lugar jamais molhado...

E com surpresa e espanto...

Observo a imagem de um recíproca capricorniano...

Seco e infinito como a mim e ao próprio...


Ao fim de alguma jornada...

Reflito sobre tudo que já cruzei...

E imagino assim que dor maior seria apenas...

Jamais em algum lugar não ter cruzado...


Tal destino que me espoliou de tudo agora...

Para que nada restasse que não a ALMA


: por hora eterna a espera do amor


: VERDADEIRO AMOR...


Pois nada mais resta do amar... que misturou-se com o infinito das areias do deserto... pra jamais voltar...


Mentira! – 30.05.01 – 13:40

Mentira que a vida é como você diz...

Mentira que você é tudo o que fala...

Mentira é o falo... sem função... sem sementes...

Mentira é o sexo que não frutifica...

É o ventre que não concebe...

É a voz que não canta...


Mentira é aquilo que constrói entre nós


: UM MURO...


E dou um MURRO nesta mentira...

Pois não bebo desta água...

Nem nada neste mar


: de mentiras...


Avance o sinal se quiser...

Quem morre ou não é Mentira!


Da minha parte a vida é um veludo celeste...

Cheia de espinhos e pregos...

E me deito nele...

E me esfrego!


Poeta Tupiniquindim – 06.09.2000 – 22:21

Delicioso é ser poeta...

Em um país sem dindim...

Sem sonho ou coragem...

Sem adubo pro jardim...


Se escorrega na banana...

Pensa: clichê de desenho americano!

Pesa-se: Pesticida imprestável

Agrotóxico improdutivo


: subproduto de telenovela nacional!


Nada é mais intragável

Do que comer o poesia em papel jornal


Todo mal é ser poeta...

é complicado fugir da festa...

da grande festa da criação... inspiração à 100 por hora... realidade à DEZ!


Em meio a crise financeira

fico a escrever pra me sentir VIVO!


Vívido mas indigesto

Sobrevivo como um indigesto prato

Para tua refeição!


Jogado na lixeira

Não me preocupo


: serei reciclado...


Reciclável daqui a dez mil anos...

Cúmplice do oportuno...

Encaroçado e de mau gosto...

Antropológico e roto...


Lembro da Semana da Arte Moderna de 22...

Não mata a fome...

Mas reflito que é melhor...

Ser artista para a posteridade...

Do que prostituto da

PRODUÇÃO EDITORIAL BRASILEIRA!

Melhor é vê-lo no esgoto


: O POEMA...


Dessa terra hospitaleira...

NÃO GUARDO NEM MESMO O PÓ...

MAS CULTIVO POESIA, POIS EXISTE MUITO ADUBO:


- NA SOCIEDADE

- NA CULTURA

- NOS MAUS POETAS


VIVA A ANARQUIA...

VIVA INTENSA A POESIA...

NO PAÍS DAS SAÚVAS



Definindo a Saudade – 29.06.1999 – 04:36


Saudade é não ter paz,

é perder alegria, viver vendo coisas

em cada esquina, em cada olhar ...


Saudade é aprisionar sonhos,

afogar em rios de incerteza

toda uma vida a dois


Saudade é ter o coração vestido de tormento,

vestes que já foram peças de uma vida.

... Depois despindo-se vai matando bem devagarinho.

Saudade é definida...

Quando não se tem paz... momento algum...

Quando se atropela o viver das coisas que crescem...

Tomam nosso controle... nossos sentidos...

Nos fazem perder... alegrias... algo importante que temos...

Em cada olhar...

Em cada esquina...

Em cada lembrança...


Saudade... aprisionada em nossos sonhos...

Tornam pesadelos medonhos... o menor cochilo...

E em rios de incerteza...

A vida queda abruptamente...

Numa cachoeira infinita...

Onde decaem lágrimas sem sal...

De um coração sem toques...

Despido o amor!


Negro... veludo de tormento...

Há quem não tem paz e se atropela no vir e ver que as coisas crescem...

Ao nosso redor...

No nosso íntimo...

Em todas as lembranças...

Que doem e cicatrizam... jamais... em nossas mentes aflitas... como uma chaga!


Levado assim neste conflito...

Quedei na impiedosa rebentação de cachoeira fel...

E senti cruel... verdades rasgando meu orgulho e sentimento...

Pois humano... também falhei por não entregar... tudo que eu tive...


Preso ao meu véu...

Largo docemente... cada palavra escolhida...

Caída no chão... forma uma trilha distante... que vai sem demora...

Vagarosamente... distanciar-me de mim mesmo...

De minhas palavras... lembranças... como águas...

Que em outros tempos mesclaram...

Eu e o mar...

Eu e o amar...

Restada a Saudade...


Na imagem que se apaga no horizonte...

Navego rumo ao novo sentimento...

Talvez não mais saudade... MAS FRUTO DELA!


Despido o homem só...

Caminha inabalável...

Sem roupas ou vestes...

Apenas vestido EM SENTIMENTOS...

MAIS HOMEM QUE JAMAIS FOI...


... A PROCURA DE UMA MULHER!


Sentimentos explodem...

Sentimentos extrapolam o que podemos expressar...

Sentimentos ficam ocultados na poesia...

Sentimentos nos fazem rimar... amar... sentimentos que jamais imaginamos...

Entre palavras...

Guardo pérolas e sentimentos...

Jóias raras de valor algum quando não lidas... não tocadas... não amadas...

Ou simplesmente vividas...

Quando alguém lê...


Muitos imaginam...

Se tudo que eu escrevo eu sinto... eu vivo e sofro...


Absolutamente tudo... tudo é de fato verdade...


Pois sentimentos tem seu corpo em plena arte...

Expressão de sentimentos em poesia...


: Corpo imortal...


Que delego ao mundo com minhas palavras...

AGORA PALAVRAS DO MUNDO

... Portanto não mais minhas....

....... Tal quanto sentimentos são pro mundo!


: Jamais meus!


: Restada a Saudade...