02 junho 2006

Parte III - Crônicas Poéticas

Parte III - Crônicas Poéticas

Esta terceira parte é uma coletânea de poesias escritas após 1990.

Em alguns casos é um exercício de distração, em outros, mensagens que gostaria de dar para alguém e noutros uma verdade tocante.

Espero que o resultado seja muito mais além de "para gostar de ler".

E se para o leitor este ato se tornar "poesia crônica", então fico por enquanto satisfeito, na medida que esta coletânea é um mosaico de pedaços destituídos de vínculos ou relações.

Contudo como vivi e não vegetei estes anos todos, creio que algo sempre será interessante, na medida que o mundo é diverso e que pessoas jamais pensam igual.

O crônico na verdade é aquilo que não muda, e permanece sempre homogêneo, igual, envelhecido, não como vinho raro de qualidades, mas como vinagre.

Resgate portanto a poesia, ou o que lhe agradar, e o resto deixe em queda livre, pois nada quebra quando caí no pensamento.

Bom apetite!



01.06.1997 Crônicas Poéticas


Saiba você

Ainda busco o imprevisto.


Visto o íntimo e o inexato

De uma ligação única,

Tíngida

De branco.


E por...

Ainda que for...

Deixo cartas de amor irresolvidas,

Vontades feridas

Abandonadas ao acaso...


Pois secas

Inundaram meu ser de nada,

Repletando meu íntimo

De verdades questionáveis,

Jamais sinceras

E como tal louvadas.


E havia os que ainda falavam

E nada escutavam,

E valia pouco mais que outros

Mas ouvia.


Duvidei então,

Refleti,

Como gato me feri,

Com a vida sete.


Pensei...

Aí está a minha recompensa,

A mina de ouro,

E já sobre o touro

Rodeio a estrada,

O destino.


Acertada e recompensada,

Nem sempre a vida compensa ou corresponde,

Maionese que estraga:

A lição final.


Mas sempre escuto,

Censuro jamais

A queda que estimula,

E caído fiquei a esperar,

Enquanto andava,

Enquanto amava,

E assim me criei-os

Em família.


Assim

A parte ruim vale a pena,

E a palha que se espalha incendeia,

Sem queimar-se em vão.


O canto final jamais irá soar...

Enquanto houver ar...

Encanto alguém escutar...

Palavras conseqüentes de atos e pessoas:

Cinema mudo.


Portanto,

De vontades jamais atoas,

De mais sorte,

E menos morte,

Serei o peão.


Jamais campe,

Mas sempre lampe,

Que ensai a iluminar o mundo todo,

Como um pavio enegrecido

E torrado

Lampeão.


Neste íntimo,

Ritmo,

Nesta mímica escrita,

Escolho cada palavra a dedo e nariz.


Pois sei

Que existem

Significados e significados,

Raiz.


Significados replexos de significantes,

Campos léxicos presentes,

Diamantes da civilização humana.


E portanto

Procuro agregar este efeito mágico

À minha pregação de prego,

Do empregado,

Do prego,

Do ato de pregar.


Pois muito acredito nesta herança

Que recebemos ao manipular um passado

Léxico,

Remoto,

De homens já mortos

E que continuam a morrer


Pois do boato que corre

Só sobra o escrito que morre

Num canto escuro do armário.


1º) Escrever poesias longas e compridas

Refletem a complexidade do Fato,

Do tempo e espaço

Que temos pra passar,

Neste estreito corredor

Da rotina.


Administro assim

Meu vínculo

Íntimo

Sistema

Ao status quo,

Ao que nem sei o que dizer,

Mas sei quanto significa,

Mesmo já morto o hôme autor.



À espera


Cada coisa tem seu lugar,

E a tiramos da ordem antiga,

Às vezes sem as mãos,

Às vezes sem as mães ,

E choramos.


Cada pessoa tem seu valor,

E a borramos de tinta e óleo,

Sem entendermos

Quanto nos custa,

Quanto nos diverte,

Quanto nos perverte,


E a vida dá voltas,

E nunca mais somos os mesmos,

E nunca mais dançamos como fadas ou anjos.


E por mais ventura que alcancemos

Nunca estamos inócuos,

Nunca dormimos de óculos,

Nunca estamos no chão, apesar de grudados.


E se estamos presos, estamos tentando,

Estamos arfando o gás tóxico do desejo,

Por isso bebemos,

Por isso sexamos,

Por isso deixamos o que prezamos de lado

Suicidas como somos.


Tolos, abraçamos a morte

Ao deixamos de lado a razão do amor,

Por sexarmos,

Por deixarmos nossos gozos secando ao léu,

Secados como provas de um ato revelador,

Invisíveis no escuro,

Presentes como cicatrizes de uma dor forte,

Mas dilacerantes em nossas consciências como for

Sem dor ou pranto

Enquanto sofremos.


E até quando lutar

Se a verdade

De amar não te correspondo...


Você ao seu lado me ama

Mas não chama sufocado em seu remorso,

E não me acalenta,

Nem me atormenta em gozo forte.


E até a morte te amarei,

E até a morte o deixarei tocar-me em meus sonhos,

Pois necessito-te calar, amor louco,

Num gesto pouco,

De dor e sorte.


Pois sei

Que escorre o seu sêmen

A fertilizar-me

No meu hímem eterno da paixão.


Porque então

Não vem e me atormenta

Com seu sexo,

Pois sou mulher e fêmea

Como alguém qualquer,

Como alguém qualquer que te gera,

Como alguém qualquer que te conhece,

Como alguém qualquer que te espera.


Tão efermera é a vida após a morte

Quanto o sexo após o casamento.


Em êxtase sofro

Em meio a dores

Que não mais importam neste espaço.


Pois temo o espaço

E a proximidade de ti,

Pois ainda não morri o amor que morre,

E não vivi o líquido que escorre em seu libido.


Mas antes de tudo

Não fui eu que tirei “Algo” do lugar

Pois fui aquela que perdeu a inocência

Para ganhar consciência.


Me sinto só

Em meu gozo de tudo que entendo

E sinto falta e não compreendo

Por que me olhas e me temes.


Amor,

Temos um passado

A unir-nos em sacramento pelo sexo

Tornado amor em noites amigas

E que Ninguém ou Deus separa,

Pois daquele sangue suado

Vieram seus filhos.


E até um dia hei de esperar,

E até o dia hei de esperar a minha morte,

Pois a morte tua espero de ti,

Espero assim ...

Espero sim a renascer-te como homem

E não menino

Em minha paixão.


Sinceramente

O que eu quero

É viver intensamente o que é você,

E transgredir o consciente desse amor,

Rir contigo desta vida de horror,

Onde poucas pessoas realmente nos amam,

Dentre as muitas que nos querem,

Dentre muitas que nos manipulam sem menor consideração.


O amor é viver a emoção do que é tranqüilo,

Colher os frutos já plantado e crescidos

De um êxtase real.

Pois sempre existe em você o meu perdão,

Pois sempre existe de você no coração e te perdôo,

Pois sei, o mundo é complexo

E explosivo

Como uma dor sem direção,

Como uma dor sem relação razão ou sentido

Para os que sofrem

E que amam pra viver.



Linhas incompreendidas


Nem sei o que fazer

O tempo passa

Nem sei o que morrer

O tempo acaba

Sem nada dizer


Então caio em desuso

Fico absurdo

Sem nada saber

Por reflexo estar

Por conexo ficar

No laço que se cria

Entre meu tempo, meu ar


Gostaria de estar inspirado

Para escrever

Mas diria

É melhor ser errado

Do que escrever

Linhas certas mas incompreendidas


Culpado-Inocente

Carrasco-Decente

A voz indiferente

Do público refrão

Que repete as palavras de um vento

Descomprometido com a verdade

Descompromissado com a justiça

Estereotipado pela moral que jamais pergunta

O que aconteceu ?

O que morreu ?

Porque sofreu ?

Para onde irás ?


Socializado o destino

Do tal

Nada resta em seu percurso

Que sua fala

Que sua história

Que sua memória

Adulterada pela indiferença da multidão.


E gostaria de compartilhar seu presente

A causa

O porque,

Pois

Vencido

Culpado

Inocente,

Foi deitado no chão imundo,

Pra saber que os fortes

Penalizam os inocentes.



02.07.97 Meus anos 10 passados


Hoje repensei meus anos 10 passados

Mas não sei se passei por todos eles

Pulei alguns,

Senti nenhuns

Morri de uns


Hoje não sei se durmo ou tomo banho primeiro

Pois muito tomei

Pois muito levei

E pouco provei


Hoje já não acredito em um futuro meu

Pois nenhum me ouvi

Pois alguém me feri

Pois morre o que senti


E o tempo de hoje que passa

Não pára para eu respirar

Nem fica assim de chegar

Ou pesa sem nada mudar


Não sei o que sou

Nem sei o que me faço

Nem mesmo eu

Nem nada quereu

Dum ponto que nó

Pois faço di pó

Sem rima

Nem traço


E nem mesmo poesio

E nem mesmo poesia

Apesar de parto

Apesar de querer

Para sempre valho

O que sempre roguei.


Nado no que resta e me mata

Nem me mato nem faço o que só

Pois do sangue que sangra refaço

E carrego comigo

E mino e perigo

Mas tenho o que sei


E das bombas

Que me traíram por todos os lados

Que outros

Que poucos

Que porque ?


O dia nascerá amanhã

E tudo terá passado

O tempo terá amado

E a cama lençol esparrado


Pois repleta-me

Meus filhos

Duas mais uma

E um


Noutro dia talvez dois

Mas por enquanto espero


O talvez vem depois


O destino que fala

Como vai a família

Pois é o algo que me resta

E talvez minha parte que presta

Pra algo que faço melhor


Só resta meu sangue que sangra

Meu olhar que procura

Meu nariz que alerta

Minha mão que busca

A verdade que vivo

A roupa que visto

E mais nada que só


E isto é que resta de meus 3 tios

De minha avó

De dois irmãos

Vários primos

E de um alguém que a ponte partiu

E que outro perdoa

Mas não esquece


E a dor que morre

Não pranto agora

Do canto sinfônico

Atônico escola:


Vida que ensina sem mostrar

E que mostra sem dizer

E que dize sem olhar

E que mata ao colher

O que nega e escola


Quem leitura

O que escrevo

Talvez ainda não pergunta

Porque que limbo

Porque que timbro

Sem claro dizer


Pois a dor que morre

Talvez escrevo

Talvez não sei porque Glauber

Porque Lawver

Porque até tu Brutus


O nada que resta da parenta

Nada vale de melhor

E se melhor valho que visto

Não compreendo

Mas não uso

Nem usuro do que não é meu


Hoje tenho 27 anos

Dezembro mais um ano além

E amanhã vintém

E outro dia amém

No nonagésimo ano de vida


Gostaria de centenário

Tombar

Ao lado da minha amada


Gostaria de falar que á vida é realmente complicada

E nada miserável

Pois palavras não trocam

Nem vozes refletem

O que no fundo vivo


Meu avô me ditou miserável

Mas não miséria

Nem pilhéria

Pois é dele que copio o costume

De talvez trabalhar

E de pouco ficar em família


E esta é a minha miséria


Às vezes não ficar

Pra muito me ausentar

Em pranto de nada

Pois não tenho a fórmula do tempo

Pra voltar o encanto que esvái

Enquanto o filho cresce

E a filha aparece

E a esposa que dorme

E o nenê que mantém


Minha barca é o que

Embarquei

Meu trabalho

O que peguei

Mas não peco

Nem me esvaio no igual que me velaram

Mesmo vivo...


Deste espelho nada resta

Nem mensagens de um pedaço de matilha

A se perder entre as folhas do papel dos homens

Que usuram de Deus


Papel que mata sem se ver

Que corrompe sem dizer

Que desfaz sem iludir

Que mata sem mostrar


E a dor que morre de meu amigo

Camões

Camãos

Irmãos

Nem menos paz


Contudo acho que contornarei

Este destino

E farei minha prole

Conhecida

Conhecida por mim

E reconhecida

Reconhecida por alguém


Mr. Burton, Richard

Da Inglaterra imperial

Viajou mas não teve algo que o fizesse voltar

E por isso se jogou

Aos pés do mundo

Obcedado pelo ouro que em algum lugar esqueceu.


O ouro do homem é igual

Ao ouro do porco

Que é igual ao ouro do boi

E que no fundo o que foi

É tudo igual


Nosso tudo sobrevive

Em carne sangue frugal


E o sangue que me sangra não é vão

Pois o que deixo é algo pouco mais que o pão


Pois pão produz

A lei ensina

O erro corrige

E a dor consola


Meus filhos são as heranças

Do futuro

E deixo-los

Aos pés de um novo mundo

De palavras violadas

Mas de sentidos iguais


Pós-Posterior-Modernidade

Tal qual idade o não saber não é perder

Pois valem-se estes do apropriar inconsequente

Sendentos por entender

Mas impossível de compreender

O mundo em que nasceram


E aberraram-se desesperados

E morreram-se bandidos

Sem saber a voz do Sacro

Nem receber a mensagem do que morreu


Pois de pessoas

Nada resta de intacto

De pessoal

De nada senão de seus discursos esquecidos

E suas parábolas inexatas

E eternas como o pó


De então Buda

Depois Jesus

Seguido por Francisco

Depois morto decerto

Para nunca mais sabermos

Qual seria o próximo


Deste lúgubre ensejo

Gostaria de deixar mensagens

Tenham filhos

Mas deixem os crescer


Eduque pelo que é

E mude pelo que for

Mas não bata com a mão que mata

Nem grite com a voz que contradiz

Seu próprio eu.


Pois repensei 10 anos meus

E pouco restou




10.11.1996 Algo forte


Hoje o dia

Fez-se cedo

Como vontade

Adormecida

Como saudade

Não vivida

De algo forte


Plantamos

O que é bom

Ou pelo menos o que achamos ser bom

O que deduzimos ser bom

Por isto sonhamos


E errar ao sonhar

Não é culpado

E sonhar por achar

É um outro fato da realidade

Dentre tantos e outros

Que a nossa imaginação cria

Dentre tantos e outros

Que a emoção cega

Por ser tão forte


Tão fraco sou

Pois as vezes canso de esperar

E as vezes durmo

E as vezes durmo

E esqueço de sonhar como os anjos


Como os simples que edificam

O valor

De novos tempos

E que brincam

Ao mesmo tempo

Que constróem um momento único

E Insubstituível

Chamado infância

Por nós que a perdemos.



05.04.1995 Quando fazemos


Quando fazemos

O que queremos

E amamos:


Nascemos

Vivemos

Amamos

Crescemos

Amamos

Plantamos

Cuidamos

Colhemos

E nunca morremos

Pois

Nosso interior

Está

Repleto

De Vida!



05.04.95 Nuvens e Castelos


Certas vezes

Ficamos,

Achamos,

Baixamos a cabeça

Na atitude que não é,

Na verdade retraída,

Na realidade revés.


A sorte

Nega ao céu

Sua brancura,

O horizonte

Escurece a vontade,

E o desejo bate,

E o ciúme argumenta,

E o vírus contagia

Nosso interior.


Sonhos...

Tempos de criança...

Quando tínhamos

Nossos heróis

e Nuvens

e Castelos no ar.


E hoje nossos

Heróis estão lá,

E nós é que

Não olhamos para as

Nuvens no céu

De tanto que

Olhamos para

Nossos umbigos.


Quem sabe

Não vale a pena

Pegar um torcicolo

e Aliviar

a Alma ?



19.03.95 Laço da paixão


Ter

Poder

Miséria


Pensamento

Elemento

Paixão


Na verdade

Um sentido

Só é velho


Quando

Esquecido

Sem reflexão


Tu és

Flor

Ao meio dia

Tu és

Vento

Ao passar


Pelo corpo

Envelhecido

Sob o véu

Do seu olhar


Chuva

Longa

A tarde

Triste


Não sei

Onde começar

Por ter não

Acontecido


Na mesmice

De um tocar


Não

Bastasse

Tempestade


Tormento

Ficção


A verdade

Foi velada

Pelo laço

Da paixão.




27.08.95 Retratos


Retrato

Absurdo

Colcha de tecidos

Retalho

De Paixão


Fachada

De mistérios

Verdade

E sorrisos


Na fossa

Da ilusão


Só os sapos

Coaxam

Gentilmente


Só a dor

Faz luz

E semente


Mas

Quem

Sabe

Outra

Vez

A cortina

Baixe

Logo


Tal como

A vela

E um incenso


Como

Um

Reflexo


Hoje penso

O que comer

Amanhã


Amanhã

Nunca

Haverá

Outra vez


Como

A chuva

Como

A vulva

Como

Três.



27.09.94 Caminho para a morte


Na verdade

A vida é

Reflexo da nossa

Atividade


Reflexo de um pensamento

Em combustão

De uma paixão

Em ebulição

Do caminho

Para a morte


Morremos a cada dia

Que se passa

Para renascermos

Em seguida

Com os mesmos

Defeitos e

Coragens


Que não

Traia você

O seu ideal em vida

Para não

Se aprisionar

Entre os arcos

Do destino

Como eu


Todos somos

Imortais

Perante

Nossas consciências

Na infinita

Mudança de dias

Que é a Vida


Seria você

Um pedaço de Deus

A transgredir

As leis da

Realidade?


Livres

Porém

Conscientes

Eis a sina

Dos que

Combatem



01.05.1995 Lembranças de uma vaca


Quando a vi nua em pelo

Senti um arrepio na barriga

Havia muito pelo

E muito traseiro

E muita barriga

E havia também uma singela

Inocência no seu peito

Que também era peludo

Assim como tudo que havia

Ao seu redor


Talvez fosse por amor

A primeira vista


Mas sinceramente

Coço-me ao pensar em “ti”

Ao pensar que quase me iludi

Ao pensar que quase me perdi

Entre seus pelos


Pelo que guardo na lembrança

Você nem me aceitou

Talvez por ser eu sincero demais



01.05.95 Poesia, poesia, poesia


Poesia

Poesia

Poesia


Falta muita poesia

Neste mundo

Falta muita poesia

Neste momento

Falta sim...


Falta porém

Um levante,

Uma renovação


Falta assim...

Digamos...

Faltam recursos,

Falta grana.


Quem tem história para contar

Nem sempre tem grana

Quem tem grana

Nem sempre tem talento

E não muita consciência

E não muita divergência

Com a sociedade.


Digamos que eu seja um poeta

Digamos que eu esteja duro

Digamos que eu esteja alcolizado

Estendido no gramado

Mas nada disso tira o meu mérito

A minha vivência

E é isso o que eu tenho pra contar

E é isso o que eu tenho pra amar

E é isso o que eu vivo


Vive-se às vezes inutilmente

Vive-se porém

Vive-se alguém detrás do espelho

Vive-se também


Vivo me questionando

Pra que tanta euforia

Pra chegar do outro lado

Se somos e estamos

Prisioneiros do destino


Escrevo porém

Escrevo amém

Escrevo também


E gostaria que alguém

Leiturasse isso

E financiasse o meu livro



01.05.1995 Precoces suicidas


Porque tão talentosos

E tão confusos...

Talentosos...


Porque tão brilhantes

E suicidas

E tão amantes suicidas


E tão jovens


Talvez porque não tenham

Mais o que contar

O que contar de sua pequena

Vivência .


A sociedade os deságua

Sem destino.


Certamente farão

Faculdade.




01.05.1995 Certo dia


Certo dia me dei conta

Que não tinha consciência de meus atos

De que não tinha consciência,

De que não tinha consciência de meus filhos

De que estava estático e desamparado.


Certo dia vi as horas passando sem sentido

Vi as pessoas passando por mim e eu sentido

Onde estava eu?

Onde estava a pessoa

Onde estava Deus


Mas quando meu carro foi abalroado por um caminhão na marginal

A policia estava sem papel para lavrar o boletim de ocorrência

E o fiscal ferozmente me ameaçava com uma multa

Calculada em base de uma lei que só ele conhecia

Pensei no meu imposto de renda a declarar

E na vontade de infringir tudo o que foi posto

Contra a lógica de ser e de estar


Portanto matei-os todos

Soneguei

Infringi

Assassinei as incoerências da sociedade

Mas vi meu eu cercado como pó

Pois esqueci-me

Da essência de meu Deus


Talvez relate em outro instante essa história

Mas sei que existe uma causa pra dizer

Amo muito o que tenho

Não sou o único que sofro...

Às vezes esqueço de Deus


01.05.1995 Até quando?


Abc

Def

asdflkjsafdflkjjl

sadfsfdd

Até

quando

Digitar

Até

Quando

Respirar...

Até

Quando?


08.05.1998 A verdade


Como finalizar

Algo que não termina

Que jamais se define

E nunca contenta.


Como seguir esta fome louca

De beijar a boca

Louco desejo incontrolável?


Como ficar suando

Como ficar sexando

Após dias e noites

E continuar a amar?


Sem ficar ficado

Sem deixar deixado

Sem sentir sentado

Que o tempo passou.


Existe uma semente mágica

Que apaga isto tudo,

Sem negá-lo,

Sem a tudo negar,

Mas qual seria?


Pagamos por quase tudo

Compramos o sacro

Sacaneamos o oportuno

Ficamos vazios


Digo,

Existe uma saída

Sem preço

Sem pressa

Sem porquê.


Na medida que

Nada custa

Nada implica

Nada revê

E só indica para frente.


Plante e verá

Que a verdade do amor frutifica

E nada custa

E nada mantém

Além do essencial,

Na medida que é livre,

Na medida que é simples e inesperada.

Pois milagres acontecem...

E surpreendem...

Quando olhos que se voltam pra verdade

Como ela realmente é:

Terna e eterna.


17.07.95 O avesso do avesso


Que o Homem encontre

Outro Homem

Para ser-lhe franco

E não o avesso

Do avesso

Do avesso

Do avesso

Que só cria luta

Em tempos de Paz